Pensei duas vezes antes de escrever sobre o assunto. São tantas as análises (todas com uma certa dose de razão) que mais uma provavelmente só vai bagunçar a cabeça de quem tem lido parte delas. E qualquer uma destas ainda será superficial diante do atual momento político do país.
Existem fatos que é impossível ignorar sobre este domingo.
-A quantidade de pessoas era grande, mesmo que não chegasse ao 1 milhão na Avenida Paulista como queriam fazer crer a Globo e a PM de São Paulo. De acordo com o Datafolha foram mais de 200 mil. Fala-se em 1,5 milhões em todo o país.
-Na sua maioria ‘burguesia branca’, ou ‘coxinhas’ (até gosto do termo, mas ele tem meio que deixado à esquerda cega), certamente. Nas fotos é necessário fazer um certo esforço para encontrar algum negro. Isto num país em que mais da metade da população se autodeclara negra ou parda e que é impossível desvincular o social do racial.
– Porém, não se pode ignorar que os indignados com o governo não se restringem a esta classe média, algo que o PT e alguns setores da esquerda insistem em afirmar. “Já sabemos por que estes setores odeiam o PT, a pergunta é: por que eles tem conseguido cooptar outros setores da sociedade?” dizia uma das diversas anlíses que surgiram em meus feeds.
É importante, entretanto, entender que o tamanho do movimento, não exclui sua superficialidade, e até mesmo asquerosidade política. Os protestos deste domingo poderiam ser facilmente intitulados de Circo dos Horrores. Alguns analistas dizem ter sido minoria aqueles que bradavam por intervenção militar e trouxeram até mesmo o símbolo da suástica para a Avenida. Mas as diversas imagens dizem o contrário, bem como as páginas daqueles que organizaram os protestos. Basta visitar a página do Movimento Brasil Livre para perceber que o ódio está presente em cada byet de seus posts. Ou até mesmo o mais moderado Vem Pra Rua (os dois movimentos brigaram durante a semana pela autoria da convocação dos protestos do dia 15).
Que a mídia fez festa e “saiu do armário” pela milésima vez, me parece meio que obvio também. É um comentário que chega a ser clichê, mas é importante salientá-lo. Vi trechos da cobertura da Globonews e todos na emissora pareciam em êxtase. Assim aconteceu com os principais sites e portais de noticias do país. Aliás a imprensa tem grande parcela nesta transformação do PT em símbolo da corrupção no país. Não que o partido não tenha feito por merecer, mas reduzir a corrupção a um só partido é desonesto. Incitar uma população a protestar pelo impeachment (parte dela acreditando que com a saída de Dilma assumiria Aécio Neves) sem motivação jurídica para tal, é golpe.
O foco então se torna a resposta que o governo dará a estes protestos. Levando-se em conta o perfil dos que protestaram poderia ser um guinada a direita, com uma política econômica mais liberal para acalmar a economia de mercado. Acontece que estas são as medidas que já vem sido tomadas. O que comprova que nada há de consciência política nestes protestos. Trata-se de puro ódio a uma presidente e ao seu partido. Já que também é bastante claro, para quem não se informa através de memes da internet, que o problema da corrupção extrapola os limites da política e é endêmico.
Onde estão então aqueles que poderiam contrapor os tais ‘coxinhas’? Alguns saíram às ruas na sexta-feira (13), convocados por movimentos sociais que tem funcionado mais como “chapa branca” do governo do que como movimentos independentes. Mas a maioria são o que Eliane Brum, colunista do El País, chama de ‘A mais maldita das heranças do PT’. São aqueles que esperavam que após o segundo turno das eleições de 2014 o PT voltasse a defender suas bandeiras históricas. Aqueles que têm uma história de militância no partido e hoje veem a legenda se render ao devir do poder.
O pensador político mais odiado dos protestos neste 15 de março já havia dito séculos atrás que não existe conciliação no sistema capitalista. O PT manteve-se em cima do muro durante os 12 primeiros anos de mandato, e conseguiu, é verdade, avanços consideráveis. Mas o momento e a economia do país são outros. É preciso contrariar interesses, pôr projetos como o da Reforma Política, da Democratização das Comunicações e taxação de grandes fortunas em pauta. É preciso ‘ouvir o silêncio’ daqueles que não foram ás ruas.