EDITORIAL 3: Foram tantos os caminhos até aqui

Não é exagero. As reportagens e artigos que vocês vão ler na 3ª edição da Afirmativa são continuidade de uma história que começou em 1798, com os pasquins manuscritos colados nas ruas da Salvador Colonial, anunciando a Revolta dos Búzios e o sonho negro organizado pelo fim da escravidão e independência de Portugal. De lá pra cá, a população negra sempre usou da imprensa às novas mídias para fortalecer a luta contra o racismo e suas intersecções. Confira um pouco dessa história na linha preciosa, escrita por Pedro Caribé.

São tempos difíceis, mas sem engodo. Para nós nunca foi fácil, e mais: estamos vivendo a conjuntura política mais favorável para mudanças estruturais na sociedade brasileira. Esta profunda reflexão faz parte do artigo da feminista negra, crush nacional que acumula 40 aninhos bem vividos de militância no movimento negro, Valdecir Nascimento, na Coluna Luíza Bairros – Presente! Obrigada Val, a toda equipe Odara, e a Odara, por todo apoio e ensinamentos dos passos percorridos desde muito longe, por encruzilhadas Tempo e mundo a fora. E como a Marcha das Mulheres Negras Contra o Racismo, a Violência e Pelo Bem Viver apontou: Seguimos em marcha!

Jonas Pinheiro e Naiara Leite trazem na reportagem “Os desafios políticos da população negra” o resgate de como o movimento negro incidiu politicamente no Brasil, e quais são hoje nossas principais ameaças.

Esta edição, dedicada especialmente a juventude negra, traz as várias caras da renovação do movimento, das perifas às universidades, da cidade e do campo, pelo direito a vida e a subjetividade. É o que vocês verão na reportagem que soa como poesia de esperança, escrita por Mariana Gomes.

Tem dedo na ferida aqui pra falar de drogas sem conservadorismo, sem papo haribô, sem tabus. Pela perspectiva negra, das mulheres, das comunidades mais afetadas pelas políticas de proibição da venda e do uso. Quem traz esse texto sou eu mexma, Alane Reis, dialogando com Bruna Rocha, que assina nossa reportagem de capa, e traz o luto e a luta das mães de meninos e jovens assassinados pelo Estado, na chamada Guerra às Drogas – uma das facetas mais letais do genocídio da população negra.

Há formas do racismo e do sexismo que atingem as meninas e jovens negras como a mais ninguém, e para tratar deste tema me juntei com Danielle Souza e Naiara Leite.

É tanto impacto do racismo nas nossas vidas que às vezes o juízo pesa mais do que aguentamos. Cuidados com a saúde mental importam e não são mimimi. Quem escreve é Marina Morgana.

Fazemos política de tantas formas, inclusive através da arte, é o que faz Luedji Luna, que canta a vida na diáspora africana, e você confere numa entrevista gostosa feita por mim e Patrícia Rosa. Tem também o conto Nascedouro, da escritora Cristiane Sobral, que vem nos dizer que das piores dores é possível renascer mais fortes.

Por fim, um agradecimento especial ao Coletivo de Cinema Negro Tela Preta, ao Estúdio Eban, e a Tássio Santos, maquiador finíssimo da Herdeira da Beleza. Obrigada a cada pessoa que ajudou a fazer este projeto existir, que emanou energias, que nos incentivou. Gratidão especial a Ceres Santos, Djamilla Ribeiro e Rosane Borges, que nos ajudou na curadoria de textos aqui presentes e em nosso portal online. As palavras são caras para nós que fomos forjadas para aceitar os silêncios. E como diz a cantora Ellen Oléria, nossas palavras são afiadas e contaminam. Ubuntu!

 

Alane Reis

Editora Afirmativa

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *