Homens negros são as maiores vítimas do tráfico de pessoas no Brasil, aponta relatório

Levantamento revela que 8.415 pessoas foram resgatadas de condições análogas à escravidão entre 2021 e 2023

Por Karla Souza

O Relatório Nacional sobre Tráfico de Pessoas, produzido pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) em parceria com o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), através da Secretaria Nacional de Justiça (Senajus), revelou dados sobre o tráfico de pessoas no Brasil entre 2021 e 2023. O estudo lançado no último dia 30, que integra o projeto regional TRACK4TIP, expõe as diversas formas de tráfico no Brasil e as características das vítimas, destacando a predominância de exploração laboral e o impacto desproporcional sobre a população negra.

Durante o período analisado, 8.415 pessoas foram resgatadas de condições análogas à escravidão no país. Dessas, 80% eram negras (pretas e pardas), totalizando 6.754 pessoas. Em contraste, 18% das vítimas eram brancas (1.497) e 2% indígenas (148). Além disso, o relatório evidencia que 84% dos resgatados eram do sexo masculino, um total de 7.115 homens, refletindo as desigualdades estruturais e a vulnerabilidade socioeconômica que permeiam o tráfico de pessoas no país.

Em inconformidade com os demais dados, as denúncias de possíveis vítimas de tráfico de pessoas, feitas ao Ligue 180 e Disque 100, indicam que 49% das vítimas que conseguiram acesso à delação eram brancas.

O relatório também aponta um aumento significativo no número de migrantes resgatados em situações de trabalho escravo. Entre 2021 e 2023, 355 trabalhadores estrangeiros foram identificados nessas condições, sendo a maioria de origem paraguaia, seguidos por venezuelanos e bolivianos. Esses dados enfatizam a necessidade urgente de medidas mais eficazes para proteger migrantes e minorias étnicas das formas atuais de escravidão.

Além dos números absolutos, o estudo destaca a exploração laboral como a principal finalidade do tráfico de pessoas no Brasil, com a internet e outras tecnologias desempenhando um papel crescente no aliciamento e controle das vítimas. Essa mudança no modus operandi dos traficantes impõe novos desafios às autoridades, que precisam aprimorar suas estratégias de enfrentamento para acompanhar a evolução das práticas criminosas, conclui a pesquisa.

O documento ainda aborda a exploração para o cometimento de delitos e a adoção ilegal como finalidades “invisíveis” do tráfico de pessoas, práticas que têm ganhado relevância nos debates entre autoridades e organizações internacionais.

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