Mais quantas Ágathas vão precisar morrer?

Segurança Pública e Política de Morte do século XXI

Por Crislayne Zeferina*

Zona Norte do Rio de Janeiro, dia 22 de setembro de 2019, mais um enterro de uma criança que a bala do governador Wilson Witzel achou. Uma criança que tinha sonhos e perspectivas e só queria viver como outra qualquer, mas a necropolítica do senhor governador não deixou, pois a política de vida é selecionada e, nesta seleção, Ágatha, morta com um tiro nas costas, dentro de uma kombi no Conjunto de Favelas do Alemão, não passou, como outras dez crianças, que também tiveram suas vidas retiradas por um Estado que se auto promove com a quantidade de corpos mortos.

O Brasil vive o maior caos do mundo. Liberaram a chave do fascismo, do fundamentalismo e do conservadorismo e isso acarreta em corpos tombados no chão a cada momento e em cada estado. É visível a política da crueldade e do desrespeito com a bandeira brasileira democrática, bem como com a luta de todas as pessoas que vieram antes e que estão sendo subjugadas, ofendidas e jogadas numa poça de sangue, sempre nosso sangue, sangue de corpos pretos e periféricos.

As marcas do chicote, do tiro, da opressão e de um Estado genocida estão presentes em todos os campos, da natureza à vida humana, sendo oferecida sempre uma ação política baseada na crueldade e na desumanidade. A sociedade brasileira pede socorro aos países de fora, também aos deuses e ancestrais, à natureza e a quem puder socorrer, mas, parece que não tem fim, a luta por um projeto político popular, que seja de fato democrático e de valorização da vida e da dignidade humana. A nossa gente, preta e pobre, continua sendo discriminada e ofendida e nosso papel nesse momento é gritar por socorro e exigir uma interferência democrática emergencial para o nosso Brasil.

É preciso entender que a naturalização dos corpos negros tombados e alvejados pela violência e negligência do Estado precisa acabar. Não estamos aguentando mais acordar e olhar o sangue derramado dos nossos por uma necropolítica que se beneficia de uma estrutura racista, baseada num poder fascista, ditatorial e antidemocrático. O Brasil rasga a Declaração do Direitos Humanos, em que os ideais e propósitos são outros, ou seja, de valorização da vida e da dignidade humana.

O direito à vida que estabelece a Constituição de 1988 foi esquecido e agora o que nos resta é o pedido de ajuda humanitária e que atenda os espaços periféricos, sendo estes os principais alvos. Uma ajuda humanitária que atenda o povo preto que é caçado e oprimido todos os dias. Uma ajuda humanitária que derrota o fascismo e o fundamentalismo religioso de quem prega o amor e pede a morte de determinados grupos.

O Brasil pede socorro!

É preciso criar frentes e/ou redes de lutas nacional e internacional, realizando incidência política em todos os cantos, mostrando em uma linguagem popular o que está acontecendo e os retrocessos presentes em tão pouco tempo, para assim lutarmos e derrotarmos essa estrutura que está no poder desrespeitando o povo brasileiro, bem como sua Constituição. Todos nós precisamos levantar e voltar a ocupar as ruas, unificar a luta e nos colocarmos a entender que existe uma diversidade de lutas e de pautas, mas a briga agora nesta conjuntura é contra esse sistema racista e patriarcal que está sendo ocupado por dirigentes antidemocráticos, fascistas, matadores de crianças, adolescentes e jovens.

PRECISAMOS TOMAR O PODER JÁ!

 

*Jovem, Negra, Favelada, Pedagoga, Moradora do Território do Bem, Presidente do Fórum Estadual de Juventude Negra, Presidenta do Conselho Municipal de Juventude de Vitória – COMJUV, Organizadora do Fórum de Juventude do Território do Bem, Secretária de Articulação do Conselho Estadual de Juventude do ES – CEJUV, Coordenadora Nacional de Juventude da Nova Frente Negra Brasileira – NFNB, Representante da Rede Nacional de Juventude Negra no ES – RENAJUNE, Líder e Articuladora da Saúde da Pastoral da Criança do Bairro da Penha, membra do coletivo Crias daqui e madrinha do coletivo Bonde da Praça.

 

 

Arte de destaque: Ribs

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