Por Karla Souza
Marneide Sousa, vendedora de 39 anos, foi vítima de racismo religioso enquanto aguardava o metrô na Estação da Lapa, em Salvador (BA), no último sábado (23). A suspeita, uma idosa de 75 anos, abordou a mulher, pegou no fio de contas que ela usava, e afirmou que a vítima deveria “servir a Deus”. O objeto, um símbolo sagrado do candomblé, é utilizado por religiosos dessa tradição.
Durante a abordagem, a idosa proferiu ofensas, acusando a vendedora de “ter o diabo no corpo” e afirmando que ela precisava ser evangelizada. De acordo com a vítima, que tem o cargo de ekedi do Ilê Axé Oyá Omim Igbalê, os insultos se intensificaram mesmo após a intervenção dos agentes de segurança do metrô. “Ela gritava, tirou a bíblia da bolsa e começou a vir em minha direção”, relatou à TV Bahia.
Marneide, a vítima, contou que as agressões começaram enquanto esperava o transporte e se estenderam durante a viagem. Ela relatou ainda que apenas um homem desconhecido, que registrou o episódio em vídeo, e os agentes de segurança ofereceram apoio. “Eu me senti acuada porque todo mundo me olhava, mas ninguém me ajudava”, desabafou em entrevista ao Bahia Meio Dia.
Além dos ataques pessoais, a idosa negou a importância de símbolos ligados à consciência racial, afirmando que “não existe Dia da Consciência Negra” e que “não existe o dia preto”.
A concessionária CCR Metrô Bahia confirmou o incidente em nota, informando que agentes acionaram a Polícia Militar assim que a situação foi denunciada. A PM deteve a suspeita após a chegada do trem na Estação Bonocô. Ambas foram encaminhadas à Central de Flagrantes, onde a idosa foi autuada em flagrante por injúria racial, com a intolerância religiosa equiparada ao crime de racismo.
As imagens captadas ajudaram a Polícia Militar a constatar a veracidade dos fatos. Segundo a 26ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM), a suspeita foi detida e permaneceu presa por dois dias até ser apresentada em audiência de custódia. Na ocasião, a Justiça determinou sua liberdade provisória, condicionada ao cumprimento de medidas como comparecimento aos atos processuais e manutenção de endereço atualizado.