10º CachoeiraDoc celebra o cinema documental e homenageia Dona Dalva

Festival retorna após cinco anos com programação gratuita, exibições inéditas e protagonismo de povos quilombolas, indígenas e LGBTQIAPN+
Imagem: Vitória Nasck

Texto: Divulgação

Comemorando uma década desde sua primeira edição, o 10º CachoeiraDoc marca sua retomada com uma programação que atravessa o cinema, as artes visuais, a música e a educação. Até o dia 15 de junho, a cidade de Cachoeira, no Recôncavo Baiano, recebe produções que evidenciam a centralidade de narrativas negras, indígenas e periféricas na construção de um cinema comprometido com a memória, o território e a justiça social.

O festival ocupa locais simbólicos da cidade, como o Cine Theatro Cachoeirano e a Estação Ferroviária, firmando a relação entre o espaço urbano e as expressões culturais e políticas que emergem dos corpos e histórias que o habitam.

A nova edição traz como eixo curatorial a temática “Terra e Território”, a partir da qual foram selecionados 29 documentários para as mostras competitivas. A seleção contempla produções de realizadores indígenas, quilombolas, LGBTQIAPN+ e lideranças afro-religiosas. 

“A programação do 10º CachoeiraDoc retoma os objetivos fundantes das edições anteriores: o caráter formativo, com a presença massiva de estudantes da UFRB; o documentário como ponto de intersecção entre estética e política, cinema e luta; e a cidade de Cachoeira como ponto de encontro e proposição artística-cultural para o Cinema Brasileiro”, afirmou Kênia Freitas, da direção artística do festival.

Entre os destaques da edição, estão os filmes União Sete Flexas, de Caio Dornelas, e Meu Caminho até a Escola, de Diego Jesus, além de obras criadas por estudantes e egressos da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). As sessões serão acompanhadas de debates com os realizadores, fortalecendo a proposta do festival como espaço de formação crítica.

A curadoria – composta por docentes, pesquisadores e estudantes – incluiu ainda a Mostra Especial Terra e Território, voltada a obras produzidas no Recôncavo Baiano e dedicada às imagens que atravessam essa região marcada por disputas fundiárias e lutas ancestrais.

As premiações somam mais de R$ 15 mil e serão entregues nas categorias de melhor longa e curta-metragem, júri popular e projeto em finalização. O júri técnico conta com nomes como Anti Ribeiro, Antônia Ágape e Thacle De Souza, e o tradicional Júri Jovem será formado por estudantes de Museologia e Cinema da UFRB. O troféu do festival foi criado pelo artista baiano Rodrigo Santana de Jesus.

As Mostras Especiais, com curadoria de artistas e pesquisadores negros e indígenas, tem como objetivo ampliar as reflexões sobre o direito à terra e à imagem. A sessão “A Palestina ensina vida, ensina luta” e o Ciclo de Performances Infinitos Impossíveis propõem um olhar para as conexões entre cinema, performance e espiritualidade. Obras como Funfun e Irawo Bori, de Ayrson Heráclito, tensionam os limites entre arte e ritual, morte e transformação, e serão exibidas como videoinstalações em espaços abertos da cidade.

A homenagem a Dalva Damiana de Freitas, conhecida como Dona Dalva, marca a abertura do festival. Aos 97 anos, a sambadeira, líder religiosa e ativista cultural será celebrada com uma apresentação musical e uma roda de conversa sobre sua trajetória. Reconhecida como Doutora Honoris Causa pela UFRB, Dona Dalva representa a força das mulheres negras na sustentação das tradições culturais do Recôncavo e será homenageada por sua contribuição à valorização do samba de roda e das práticas de matriz africana na região.

O circuito de rodas de conversa do 10º CachoeiraDoc reunirá lideranças como Nádia Tupinambá e Ananias Viana para debater temas como ética no audiovisual, performance política e arquivos de resistência. Artistas como Everlane Moraes, Jamile Cazumbá e Portia Cobb compõem os encontros, que aprofundam as relações entre o fazer documental e os saberes comunitários. 

A Sessão de Encerramento exibirá filmes como As Cegas (1982), da paraibana Antônia Ágape, e Exculturas, de Emerson Santos, cineasta baiano e ex-estudante da UFRB homenageado postumamente. A apresentação musical de Beatriz Sena & a Cadência Afrolatina encerra a programação do festival, que é realizado por Ayabá Produtora Criativa e Audiovisual, com patrocínio do Instituto Cultural Vale e apoio da Lei Paulo Gustavo.

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