Cesta básica puxa alta de preços e pode impactar ainda mais quem precisa do auxílio emergencial para viver

Levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV) revela que quatro, de cinco itens, tiveram aumento de quase 20% e o governo reduz o auxílio emergencial quando a população mais precisa desse recurso

Da Redação / Imagem: Tarciso Augusto

Arroz, feijão, óleo e batata estão entre os grandes vilões do aumento de preços em agosto, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV). O arroz e o feijão, dupla imbatível na mesa do brasileiro, em oito meses registraram elevação de preço de 20% e 28%, respectivamente. Existe uma parcela da população que desconhece esses índices, mas sente o impacto deles na mesa, principalmente quando os alimentos começam a escassear.

Esse é o caso de Maria Aparecida de Castro, 38 anos, de Juiz de Fora. Auxiliar de serviços gerais, ela está sem trabalho desde março, quando a pandemia começou. Elegível ao auxílio do governo, recebeu 1200 reais em maio por ser mãe (tem um filho de 15 anos). Desde junho, quando deveria receber a segunda parcela, está em avaliação. Maria Aparecida paga 600 reais de aluguel e hoje sobrevive com 150 reais das faxinas que surgem, mas o problema é que nem sempre aparece quem queira o serviço. “O sentimento é de total decepção e desânimo. Fomos esquecidos”, desabafa,  ainda mais diante do aluguel atrasado.

Já a paulistana Tânia Aparecida Gonçalves, 57 anos, há mais de 20 anos sem emprego formal, perdeu os trabalhos temporários com a pandemia. Considerada morta pelo governo, teve o auxílio negado até finalmente receber a primeira parcela de R$ 300 em setembro. Sem condições de pagar aluguel, hoje vive de favor na casa de conhecidos. Elas são apenas duas entre os milhares de brasileiros que, com a pandemia, perderam rendimentos, postos de trabalho e estão sob ameaça de não conseguir o mínimo para a subsistência da família.

A renda básica emergencial aprovada pelo Congresso em março deste ano é resultado de um processo de pressão da sociedade civil por meio da campanha Renda Básica Que Queremos, que teve início em março deste ano, em reação à proposta inicial de apenas R$ 200 reais do governo Bolsonaro, congregando 150 organizações. Hoje, com quase 300 instituições, a campanha está voltada para reverter a decisão do governo de reduzir o valor do auxílio à metade. O objetivo da campanha é não só manter o valor de R$ 600 mensais do benefício e R$ 1200 para mães chefes de família, mas que isso se dê sem qualquer alteração nos demais programas sociais, até o fim do ano, mostrando que esse recurso é essencial para a manutenção dessas pessoas.

“A iniciativa nasceu da nossa percepção de que a conta da retração econômica sobraria para os mais pobres”, explica Paola Carvalho, diretora de relações institucionais da Rede Brasileira de Renda Básica, que integra o movimento. Diante da alta dos alimentos, a situação econômica das famílias que dependem do auxílio, como a de Maria Aparecida e de Tânia, pode piorar muito nos próximos meses – principalmente diante da constatação que 4,4 milhões tiveram como única fonte de renda os 600 reais distribuídos pelo governo, conforme divulgou o Ipea esta semana.

Com a redução do auxílio emergencial para 300 reais e a elevação de preços da cesta básica, a tendência é que essas pessoas não consigam nem cobrir o valor da cesta básica mais barata do país, em torno de 390 reais – segundo o Dieese. “A pandemia escancarou diferenças e tem empurrado uma parcela enorme da população para a miséria e a fome. Diante da alta dos itens da cesta básica, estamos lutando pela renda de 600 reais até o fim do ano porque é uma batalha justa, contra a fome e pela dignidade desses brasileiros”, relembra Paola Carvalho.

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