Da Redação
Na última quinta-feira (25), a 3ª Promotoria de Justiça Militar solicitou que a Corregedoria da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) instaure no prazo de até 10 dias um procedimento de investigação preliminar para apurar a invasão de um terreiro por policiais militares em Planaltina, no Distrito Federal. O caso aconteceu durante a perseguição de um homem que, supostamente, realizava tráfico de drogas.
Vídeos que circulam na internet mostram quando a Casa Ilê Asé Omin Yemonjá Ogunté teria sido invadida pelos agentes do Grupo Tático Motociclístico (GTM-34) na noite da última terça-feira (23). Em um deles, o suspeito aparece dentro do terreiro, ferido na cabeça e algemado. Em outro registro, outros policiais pulam o muro do terreiro em busca do suposto traficante, e em um outro momento os agentes proferem palavrões contra as pessoas que estavam no local.
É possível ouvir um dos PMs falando “macumbão” para os membros do terreiro em um dos vídeos. “Sem nenhuma preparação, arrombaram o portão, invadiram o terreiro, que estava em função, adentraram os quartos de santo e chamaram o nosso espaço sagrado de inferno”, afirma uma das publicações feita pela Casa nas redes sociais.
O Bábàlorisá Uanderson, líder religioso da Casa e irmão do homem que estava sendo perseguido, explicou em entrevista ao Brasil de Fato DF que estava fazendo uma limpeza espiritual quando a abordagem começou por volta das 18h30, “quando de repente, meu irmão invade minha casa algemado com a polícia segurado nele. O policial o jogou no chão. Ele jorrava sangue pela boca, nariz, ouvidos, um corte imenso na cabeça. Ele caiu algemado de barriga para cima e o policial subiu em cima dele. Pedi para o policial parar com isso, porque iam matar ele. De tanto eu pedir e implorar, o policial o soltou e saiu. Depois, invadiram minha casa, pularam os muros, profanaram minha casa, invadiram meu templo e corpo espiritual”, relata.
Segundo Uanderson, policiais também agrediram seu filho com empurrões o jogando no chão. Na delegacia, o líder religioso conta que os policiais acusaram os membros da Casa de agressão.
Em novembro de 2022, a Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras apresentou o primeiro mapeamento sobre racismo religioso do Brasil com base no levantamento de casos de violência contra comunidades tradicionais das religiões de matriz africana e do perfil das tradições de terreiros de todo território nacional. O projeto, intitulado “Respeite meu terreiro”, ouviu 255 terreiros de todo o país. Quase a metade registrou até cinco ataques nos dois anos anteriores ao estudo.
Em vídeo publicado no perfil da Casa nas redes sociais na última sexta-feira (26), o Bábàlorisá conta que estão sendo acompanhados, tanto pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara, quanto pela OAB.
De acordo com a versão da PMDF, cerca de 20 moradores locais tentaram intervir na captura do suspeito, mas a ação foi “rapidamente controlada”. Já a Corregedoria da corporação informou que já instaurou o procedimento de investigação.