Por Karla Souza e Jonas Pinheiro
“This may be associeted with the sale of drugs”, em tradução livre “Isso pode estar associado à venda de drogas”. Esta é a mensagem que aparece no Instagram quando qualquer usuário(a) pesquisa termos como “negra”, “mulher negra”, “marcha das mulheres negras” e “beleza negra”.
A Afirmativa fez o teste nesta quinta-feira (05). A plataforma barra o aparecimento dos conteúdos relacionados à negritude e afirma que a venda, compra ou negociação de substâncias ilícitas pode ser prejudicial e ilegal na maioria dos países, oferecendo apoio para tratamento e prevenção de abuso de substâncias. Abaixo da advertência, os usuários têm a opção de buscar ajuda ou visualizar os conteúdos de qualquer forma. O mesmo não acontece quando é pesquisado termos como “branca” ou “beleza branca”.
A plataforma não forneceu uma resposta oficial à Afirmativa até o momento da publicação desta nota, e agora a noite aparentemente “corrigiu” o que estava levando a acontecer a associação. As decisões e ausência de uma resposta oficial do Instagram podem levantar a preocupação sobre a falta de transparência e responsabilidade no gerenciamento de conteúdo da rede social, além de reforçar o racismo algoritmo.
A discrepância entre termos como “negro” e “homem negro”, que não são advertidos durante a pesquisa na rede, comparado a “negra” e “mulher negra”, que são taxados, destaca a urgência de se revisar e abordar a forma como os algoritmos e as plataformas digitais lidam com questões de raça e gênero.
Racismo Algorítmico
O conceito de Racismo Algorítmico é do pesquisador Tarcízio Silva, e descreve a manutenção das desigualdades raciais por meio de tecnologias digitais. Silva argumenta que a prática reflete uma atualização do racismo estrutural, perpetuando a marginalização de grupos negros e evidenciando a falta de neutralidade nas tecnologias digitais.
Para ele, o fato que aconteceu com o Instagram, que pertence ao grupo Meta, reforça a falta de transparência das Plataformas Digitais. “Este fato reforça a absoluta necessidade e urgência de regulamentação das Plataformas, para que tenhamos um mínimo aceitável de mecanismos de transparência, de responsabilização e de reparação sobre os danos que elas têm causado em países como Brasil, sobretudo em relação a comunidades politicamente e racialmente minorizadas.”
O pesquisador ressalta que é chocante que um termo tão amplo no país, seja associado a drogas e atividades ilicitas, mas que isso não surpreende tendo em vista o histórico do grupo Meta. Ele acredita que para contornar essa realidade imposta por Big Techs, como a dona do Intagram, é preciso criar mecanismos que vai desde o boicote, a criação de políticas públicas que regulamentem o funcionamento das plataformas digitais.