Texto: Divulgação
O maior encontro internacional sobre o clima, a 29ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, teve início na última segunda-feira (11), em Baku, no Azerbaijão, e vai contar com a presença de um grupo de mulheres negras brasileiras para denunciar as violações sofridas em seus territórios.
Atingidas pelas barragens, enchentes, poluição das águas e pelo racismo ambiental que nega direitos básicos às periferias das grandes cidades e territórios rurais, mas também protagonistas da resistência e das soluções comunitárias de enfrentamento à crise climática. O grupo organizado através da Rede Vozes Negras pelo Clima tem por objetivo construir, junto aos órgãos multilaterais de governança da questão climática, a centralidade da raça, do gênero e da luta pelos direitos humanos no enfrentamento à Mudanças do Clima. A Rede é composta por mulheres atuantes nos territórios de oito estados brasileiros: Bahia, Pernambuco, São Paulo, Espírito Santo, Ceará, Rio de Janeiro, Goiás e Maranhão.
A partir do conceito de adaptação climática antirracista, elas têm apresentado um programa que tem como centro o combate às desigualdades raciais e sociais. Na COP29, que vem sendo anunciada como a “COP do financiamento”, a Rede pretende incidir para o reconhecimento das mulheres e comunidades afrodescendentes como pessoas e territórios mais atingidos pela crise climática. Assim como são as lideranças e detentoras de saberes e tecnologias que podem contribuir para conter esta crise.
O coletivo pretende incidir também para que a adaptação climática seja instrumento de combate ao racismo, bem como a Nova Meta Global de Financiamento Climático seja pública, com recursos adicionais, monitoráveis e de qualidade. A ideia é garantir que as populações negras e não-brancas sejam o público prioritário das políticas de financiamento, já que é esta a que mais sofre as consequências da crise climática.
“Colocar as populações afrodescendentes e afroindígenas no centro do debate sobre Financiamento Climático é propiciar a materialização da equidade para quem secularmente precisou se adaptar para continuar sobrevivendo. Lutamos resilientemente para resistir às constantes tentativas de apagamento histórico e destruição de nossos biomas, tão importantes para nossas práticas e saberes ancestrais”, defende Luciana Souza, integrante da Rede Vozes Negras pelo Clima e representante da Comissão de Atingidos pela barragem do Fundão, em Regência Augusta e Entre Rios – Foz Sul do Rio Doce.
G20 Social e transição energética justa
Entre os dias 13 e 16 de novembro, as ativistas também estarão no G20 Social, evento que reunirá diversos movimentos sociais no Rio de Janeiro (RJ), dias antes da Cúpula do G20, que acontece nos dias 18 e 19 de novembro.
No evento, a agenda prioritária da Rede será a defesa da transição energética justa e contra as violações de direitos dos territórios frente aos megaempreendimentos.
O dossiê Nada sobre nós sem nós – por uma agenda climática antirracista construída por mulheres negras, elaborado pelas ativistas, identifica contradições na implementação de medidas de transição energética que não levam em consideração aspectos sociorraciais e geopolíticos, provocando graves impactos nos territórios. O relatório Salvaguardas Socioambientais para Energia Renovável, publicado em janeiro deste ano, revelou como os parques eólicos têm se instalado na região Nordeste, sem diálogo com os territórios, intensificando conflitos e ameaçando a biodiversidade.
“Nós vamos levar para esse espaço as denúncias sobre os casos de violação dos direitos humanos e da natureza que se dão nos territórios. O que queremos é que nossas vozes ecoem até chegar aos ouvidos dos tomadores de decisão”, afirmou Simone Lourenço, representante da Rede na delegação do G20 Social e coordenadora geral da Associação Fórum Suape Espaço Socioambiental, iniciativa que atua junto às comunidades atingidas pela instalação do complexo industrial portuário de Suape, em Pernambuco.