Por Patrícia Rosa
Fábio Anderson Pereira de Almeida, 35 anos, foi afastado das ruas e transferido para funções administrativas após atirar e assassinar Guilherme Dias Santos Ferreira, 26, na Zona Sul de São Paulo. O crime ocorreu na noite da última sexta-feira (4), enquanto o PM estava de folga.
Na ocasião, Fábio alegou ter reagido a uma tentativa de assalto. Ele perseguiu os supostos autores e acabou disparando contra Guilherme, um jovem negro que corria para alcançar um ônibus após sair do trabalho como marceneiro. Antes de sair do trabalho, o jovem postou um story na sua rede social, com o horário exato de sua saída do expediente. Uma mulher que aguardava no ponto de ônibus também foi atingida de raspão no braço. Ela foi socorrida e liberada após atendimento médico.
O jovem marceneiro era casado com Stephanie dos Santos Ferreira Dias, tinha o sonho de ser pai e de viajar com a família. Mais um jovem negro vítima da atuação racista da polícia militar. Em nota, a Secretaria de Segurança Pública declarou que o caso foi registrado como homicídio culposo no Setor de Homicídio e Proteção à Pessoa (SHPP) de Guarulhos, que realiza diligências visando identificar e localizar os autores, bem como esclarecer os fatos.
No entanto, em nota enviada à Folha de S.Paulo, o ouvidor das polícias de São Paulo, Mauro Caseri, afirmou que o caso configura homicídio doloso, ou seja, com intenção de matar. Segundo ele, o policial não seguiu o protocolo da PM, que prevê três etapas: identificar, decidir e agir. Em vez disso, atirou pelas costas contra um trabalhador negro sem qualquer identificação prévia.
“O policial desrespeitou essa sequência, agiu antes de identificar, vitimando mais um inocente, num crime de natureza dolosa, que feriu de morte, com um tiro pelas costas, o trabalhador negro, deixando ferida ainda mais uma pessoa, numa clara demonstração de que não se ‘mata por engano'”, declarou em nota.
Nesta quarta-feira(09), o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) divulgou uma nota de repudio pelo assassinato de Guilherme Dias. Foi alertada a necessidade urgente de repensar as políticas de segurança pública e o papel de nossas forças policiais no combate à violência.
“É imperativo que a atuação policial seja pautada pelo respeito inegociável aos direitos humanos, garantindo a segurança de todos, sem jamais colocar em risco a vida de pessoas inocentes. Mais uma vez, presenciamos a vida de um jovem negro ser interrompida pela violência, um cenário dolorosamente cotidiano em nossa sociedade.”
Já o Ministério da Igualdade Racial (MIR) utilizou as redes sociais para cobrar responsabilização e comunicou o envio de ofícios às autoridades competentes.“Nada justifica uma abordagem com um tiro na cabeça”, disse o MIR, que destacou ainda o padrão de racismo presente nas abordagens policiais.
“É recorrente que, quando a pessoa é negra, objetos como um guarda-chuva sejam erroneamente identificados como fuzil, ou um celular como arma. Essa associação imediata entre negritude e perigo revela o racismo sistêmico que permeia as práticas de segurança.”
O ministério ressaltou ainda a missão em desenvolver políticas e ações públicas. No campo da prevenção e fortalecimento de uma atividade institucional adequada a práticas antirracistas, foi reforçado que são realizados cursos que qualificam a atuação policial por meio de formação.
Entretanto, as iniciativas não são o bastante para reduzir o número de casos de violência policial, que tem como vítimas, na sua maioria pessoas negras, no Brasil. De acordo com dados do 18º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em 2023 o total de 6.393 pessoas mortas pela polícia em todo o país. A maioria das vítimas eram negras, somando 82,7%. Homens negros e jovens são os mais vítimados pela letalidade policial.