Por Patrícia Rosa
Cerca de três meses após o crime, o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) pediu, na última quinta-feira (10), a prisão preventiva de dois policiais militares envolvidos no assassinato de Gabriel Junior Oliveira Alves da Silva, de 22 anos, e nas agressões contra sua companheira, que estava grávida de oito meses. O jovem foi morto com um tiro na cabeça.
O crime aconteceu no dia 1º de abril deste ano, durante uma ronda da PM no bairro Vila Sônia, em Piracicaba (SP). A denúncia foi protocolada pela 2ª Promotoria de Justiça Criminal de Piracicaba. De acordo com o Ministério Público, os seis agentes envolvidos na ocorrência foram denunciados. Um deles pode responder por homicídio duplamente qualificado (por motivo torpe e impossibilidade de defesa da vítima) e por fraude processual. Outro PM foi denunciado por tortura. Para os outros quatro envolvidos, as acusações incluem coação durante o processo e violação do direito de atuação do advogado.
Na ocasião, Rebeca Mirian Alves Braga, viúva de Gabriel, relatou à equipe de reportagem da TV Metropolitana de Piracicaba que ela e o companheiro haviam saído de casa naquela noite para comprar milho e refrigerante. Ambos seguiram caminhos diferentes, até que uma viatura surgiu e abordou Gabriel e outro rapaz que passava pelo local. O jovem não reagiu à abordagem, mas um dos policiais começou a agredi-lo com socos. Ao ver o companheiro sendo espancado, Rebeca questionou os agentes e acabou também sendo agredida com um tapa no rosto, empurrões e foi arrastada pelos cabelos.
Ao presenciar as agressões, Gabriel se desvencilhou da abordagem e tentou se aproximar, mas foi atingido com um tiro na cabeça por um dos policiais. Rebeca relatou ainda que o agente que a segurava pelos cabelos a puxou e disse: “Olha lá o lixo do seu marido no chão.”
De acordo com a investigação do Ministério Público, a jovem foi colocada na viatura com violência, onde também sofreu abuso psicológico.
Um dos policiais ainda tentou alterar a cena do crime. “Um PM passou a vasculhar o local e recolheu duas pedras, mantendo-as no interior de sua viatura. Com a chegada da autoridade policial, ele apresentou os objetos, alegando que tinham sido arremessados pelo homem alvejado.”
Na ocasião, a Polícia Militar afirmou que as equipes realizavam patrulhamento pelo bairro, quando Gabriel teria resistido à abordagem e ameaçado os policiais com uma pedra.
Coação contra advogado
O advogado Gustavo Henrique Pires, presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB Piracicaba e responsável por acompanhar o caso, foi até o local do crime cerca de 10 dias após o ocorrido. Na ocasião, foi coagido por quatro dos policiais denunciados: teve um fuzil apontado em sua direção, seu carro foi vasculhado, e ele também foi ameaçado. Segundo nota divulgada pelo MP, um dos agentes perguntou se ele havia “entendido o recado” e afirmou que não queria mais vê-lo naquela região.
Em sua rede social, o advogado comentou a decisão da Promotoria e relembrou as tentativas de intimidação ao longo do processo.
“Foram inúmeras as tentativas de obstruir as investigações, incluindo ameaças diretas à nossa integridade física e psicológica, além de outras situações que evidenciam a gravidade do que vem ocorrendo em nossa região. Graças à coragem e ao empenho do Ministério Público, o caso de Gabriel não será apenas mais um número nas estatísticas”, declarou.