Por Patrícia Rosa
O que seria apenas uma ida ao trabalho, em Fortaleza (CE), se transformou em uma situação traumática para a tatuadora Suiane Souza, de 27 anos. A jovem, que é de Salvador (BA), foi vítima de uma abordagem racista, acusada injustamente de furto e submetida a constrangimentos, na tarde de sexta-feira (18), na loja Power LBX, localizada no Centro da cidade. Ela registrou um boletim de ocorrência eletrônico na Polícia Civil do Ceará.
A jovem conta que foi ao local olhar um item para comprar, mas não encontrou. Após sair do estabelecimento, Suiane foi seguida por três seguranças, que a abordaram ao deixar outra loja na mesma região. A ação foi registrada em vídeo e enviada à Revista Afirmativa. As imagens mostram a jovem sendo cercada pelos homens.
“Eles me encurralaram: um na frente, outro do outro lado da rua e um atrás de mim. Um dos seguranças me disse que eu sabia o que estava acontecendo, que era para eu ficar calma, que não era para eu gritar, para que as pessoas ao redor não percebessem”, relatou Suiane.
Segundo ela, mesmo sem resistir a acompanhar os seguranças de volta à Power LBX, foi conduzida à força, sendo puxada pela bolsa e cercada como se tentasse fugir. Já dentro da loja, outro vídeo mostra uma funcionária revistando os pertences da tatuadora. Mesmo após verificarem que não havia nenhum item da loja em sua bolsa, um dos seguranças insistiu na acusação de furto.
Suiane afirma que permaneceu dentro do estabelecimento mesmo após a revista. De acordo com ela, os funcionários alegaram que essa era a política da loja.
“Até o momento em que decidiram que eu não era culpada. Os danos morais que eu sofri, sendo levada em público, dentro da loja, com todas as pessoas me olhando, meus pertences jogados no chão são irreparáveis.”
A jovem relata ainda que o gerente da loja teria admitido a possibilidade de um engano, afirmando que “poderia ter se confundido” ao achar que viu a cliente furtando.
Pronunciamento da Loja
Na segunda-feira (21), o gerente Irlan Fidelis se pronunciou nas redes sociais. Ele lamentou o ocorrido e pediu desculpas, mas fez questão de destacar que os seguranças agiram por conta própria, isentando a gestão da loja de responsabilidade. De acordo com ele, o segurança responsável pela abordagem foi desligado da empresa.
“Nem eu, nem o proprietário da loja estávamos no local. O funcionário agiu por conta própria e contrariando todas as orientações da empresa. A cliente acabou confundindo e acreditando que o segurança seria o gerente”, declarou.
Segundo a legislação brasileira, a revista corporal ou em objetos pessoais, pode configurar violação de intimidade e constrangimento ilegal, conforme previsto no artigo 146 do Código Penal. Além disso, trata-se de um caso evidente de racismo, em que mais uma vez pessoas negras são acusadas injustamente de furto em estabelecimentos comerciais.