Texto: Divulgação
A animação EMI – O Sopro da Vida, assinada pelo coletivo Doce Acácia, foi apresentada durante a BRIFW 6, plataforma de inovação cultural realizada dentro da Rio Innovation Week 2025, no Píer Mauá, no Rio de Janeiro (RJ). A obra, exibida de 12 a 14 de agosto, leva ao público uma experiência imersiva em 3D que narra a criação do mundo a partir dos Itans, lendas da tradição yorubá, conectando espiritualidade, natureza e humanidade.
EMI se soma ao movimento de artistas negros que utilizam novas tecnologias como forma enfrentamento aos apagamentos históricos e valorizar cosmologias afro-brasileiras. O roteiro de João Acácia e a direção de animação de Felipe Salvador tem como proposta uma leitura que atravessa o campo religioso, cultural e político, contrapondo-se à lógica colonial que buscou silenciar saberes ancestrais.
“Esse projeto nasceu do meu campo de pesquisa sobre ancestralidade dentro da cultura Yorubá, voltado para o candomblé. A partir dessa inquietação de pensar como os orixás podem ser representados de diversas formas artísticas, eu e Felipe Salvador começamos a pensar em como contar essa história”, explica Acácia. O mito escolhido para a narrativa parte da centelha de luz criada por Olodumare, distribuída a Obatalá para dar origem ao universo.
Durante a arena Narrativas Apagadas, que integrou a programação da BRIFW, os diretores refletiram sobre o papel da arte digital como espaço de disputa simbólica. O encontro destacou como a colonização apagou ou desacreditou os saberes do Sul Global e discutiu os caminhos para reposicionar essas histórias no presente. O debate trouxe à tona não apenas o processo criativo de EMI, mas também a urgência de revisitar cosmologias africanas diante do racismo religioso.
A experiência estética de EMI une técnicas avançadas de modelagem 3D, trilha sonora original e referências da oralidade, revelando a possibilidade de que a arte digital seja também veículo de preservação da memória. Com isso, o coletivo Doce Acácia reafirma o compromisso de criar pontes entre tradição e futuro, reposicionando narrativas negras em espaços de inovação e circulação global.
Formado em 2020, o coletivo reúne projetos que exploram a ancestralidade, espiritualidade e audiovisual. No portfólio estão videoclipes, obras imersivas e trilhas sonoras atravessadas pela perspectiva decolonial.