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Mulheres negras ocupam antiga cadeia de Cachoeira (BA) em ato por justiça para Tainara dos Santos

A aula pública marcou um ano do desaparecimento da jovem quilombola e cobrou do Estado a responsabilização pela morte e pela proteção de mulheres negras
Imagem: Luana Miranda

 Por Luana Miranda

Na última quinta-feira (9), a Casa de Câmera e Cadeia do município de Cachoeira (BA) foi cenário de mais um ato de incidência política e reivindicação por justiça diante do assassinato da quilombola Tainara dos Santos. A aula pública contra o machismo e o feminicídio rememorou um ano do desaparecimento da jovem e contou com a participação da família, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), de agentes públicos e de diversos coletivos  e organizações de mulheres negras de todo o estado. 

A construção do século XVII, que foi o palco da aula pública, é a antiga cadeia da cidade. Mas, o que atualmente deveria ser a casa do povo, ainda se apresenta estruturalmente como o símbolo da injustiça que marcou sua origem. A sala do parlamento é composta por móveis de madeira, uma imensa imagem de Dom Pedro II ao centro e uma bíblia estrategicamente posicionada no lado esquerdo do púlpito que, diga-se de passagem, está localizado bem longe do público, como sinalizou Laina Crisóstomo, advogada  da organização Tamo Juntas, durante a abertura do evento.

Apesar do ambiente inicialmente hostil, a presença retumbante de dezenas de mulheres negras em busca de justiça mostra o quanto é fundamental ter mulheres negras ocupando não só os espaços, mas também o debate público. Para a aula, o espaço foi reajustado. As bandeiras de organizações feministas ocuparam o centro, placas com imagens das mulheres negras vítimas de feminicídio nas cadeiras dos parlamentares e o microfone passou a ser usado por lideranças negras. Foi assim que a aula se configurou como o terceiro ato para visibilizar o feminicídio de Tainara – o primeiro foi em novembro de 2024 e o segundo seis meses após o crime.

Imagem: Luana Miranda

“A gente está aqui mais uma vez porque Tainara não foi a única assassinada nesse território, vítima de feminicídio. O Estado brasileiro não tem um mecanismo efetivo de proteger as mulheres negras e principalmente as mulheres quilombolas que vivem nas suas comunidades super vulnerabilizadas. Então a gente tá aqui para trazer a narrativa de que Tainara tem uma história que precisa ser respeitada, que não é mais um número”, refletiu Amanda Oliveira, liderança jovem quilombola do território da Chapada Diamantina e técnica nos projetos de enfrentamento à violência contra as mulheres do Instituto Odara.

O feminicídio de Tainara dos Santos tem como principal suspeito George da Silva, ex-companheiro e genitor da sua filha de 2 anos. A jovem, que passou por violências durante os seis anos que se relacionou com George, já possuía uma medida protetiva contra ele. Em 9 de outubro de 2024, Tainara foi vista em uma lan house acompanhada de mais três homens, após ter se encontrado com George.

No mesmo dia, o irmão da vítima, última pessoa a encontrá-la viva, também a avistou junto ao ex-companheiro. Um ano depois desse episódio, a família ainda não a encontrou. Diante disso, o inquérito policial levou o Ministério Público a denunciar o caso com um crime de feminicídio e ocultação de cadáver. George segue em custódia, e o crime vai a júri popular.

O feminicídio de Tainara é acompanhado desde o início do processo jurídico pela Tamo Juntas – organização social que presta assessoria gratuita a mulheres que sofrem ou sofreram violência. Rose Oliveira, assistente social e presidenta da Tamo Juntas, comentou a importância de ter uma aula pública sobre feminicídio naquele espaço para lembrar que mais uma jovem negra teve sua vida interrompida em razão do machismo e da misoginia na cidade.

“Esse ato é também para cobrar responsabilidade do Estado e do município de Cachoeira no enfrentamento à violência e na proteção das mulheres. A lei Maria da Penha não tem sido implementada como deveria. É uma responsabilidade do Estado e ele precisa assumir essa culpa, porque quando o George tira a vida de Tainara ele não tira sozinho. Ela tendo medida protetiva, significa dizer que o Estado não garantiu que essa mulher seguisse viva”, explicou.

O ato foi organizado pelo  Odara – Instituto da Mulher Negra, a ONG Tamo Juntas, o Coletivo Ângela Davis, em parceria com a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).

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