Por Jamile Novaes
Diante da megaoperação policial que já deixou mais de 120 pessoas mortas no Rio de Janeiro (RJ), a resposta dada ao povo brasileiro pelo Governo Federal se resumiu a uma nota burocrática e superficial. Um posicionamento oficial que expõe o descaso com a população negra e periférica, majoritariamente atingida pela ação da polícia, e evidencia a falta de comprometimento com a garantia dos direitos humanos e com o combate à violência e à letalidade policial.
O texto publicado nas redes sociais do governo na tarde de ontem (28) ignora o cenário sangrento vivenciado pela população dos complexos da Penha e do Alemão, na Zona Norte da cidade, e se atém a mencionar as tímidas medidas administrativas que estão sendo encaminhadas.
A nota, que citou reuniões e vagas em presídios, sequer mencionou as dezenas de vidas perdidas até aquele momento. Não há um posicionamento que aponte para a apuração dos fatos, condene o excesso de força, questione o protocolo de segurança pública ou dê sinais de algum tipo responsabilização do Estado e das forças de segurança envolvidas na barbárie, já considerada a operação mais letal da história do Rio de Janeiro.
Na tarde de hoje (29), o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, fez um novo pronunciamento oficial em nome do governo. Mais um pronunciamento evasivo que não indicou qualquer compromisso com investigação ou responsabilização.
O que ocorreu nos complexos da Penha e do Alemão não foi uma ação corriqueira de segurança pública, foi um massacre coordenado e financiado pelo Estado, com mais de 2,5 mil policiais civis e militares envolvidos, além de blindados, helicópteros e drones. Uma operação de guerra, que repercutiu nacional e internacionalmente pelo número de mortos e que deveria ser tratada com o devido cuidado e seriedade pelo Governo Federal.
Num país onde oficialmente não existe pena de morte institucionalizada, o silêncio do governo diante das mortes de dezenas de pessoas em apenas um dia é inaceitável. É naturalizar a ação da polícia que age com truculência indiscriminada nas favelas e deixa um rastro de sangue pelo chão. É evidenciar, através da omissão, que o povo negro das periferias está por sua própria conta, mesmo quando governado por uma gestão que se diz defensora dos interesses e direitos do povo.


