Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Moradores cobram justiça por Caíque dos Santos, um mês após o adolescente ter sido morto em ação policial em Salvador (BA)

Moradores dos bairros de São Marcos e Pau da Lima realizaram ato em homenagem ao adolescente e entregaram manifesto ao Governo do estado pedindo responsabilização dos policiais e mudanças nas práticas de segurança pública
Imagem: Reprodução Redes Sociais

Por Patrícia Rosa

Na última terça-feira (28), completou-se um mês do assassinato ddo adolescente Caíque dos Santos Reis, de 16 anos, que foi morto a tiros durante uma ação da Polícia Militar no bairro de São Marcos, em Salvador (BA). Moradores do território e também do bairro Pau da Lima realizaram um ato em homenagem a Caíque na data, e uma escuta da comunidade sobre a segurança pública na região.

No dia 7 de outubro, no Centro de Operações e Inteligência (COI), na capital baiana, ocorreu uma reunião extraordinária entre representantes do Governo do Estado, moradores e familiares, na qual foi entregue ao poder público o manifesto “Justiça por Caíque: Pelo amor de Deus, não me mate não, tia”.

De acordo com uma publicação conjunta de organizações como a Frente Nacional Makota Valdina e a Cipó Comunicação, o documento reivindica a responsabilização imediata das e dos policiais envolvidos na ação, além de mudanças nas práticas de segurança pública do estado.

Outros pontos de reivindicação do manifesto incluem:

  • A garantia de assistência psicossocial, jurídica e reparativa à família de Caíque e às demais famílias afetadas;
  • A adoção urgente de câmeras corporais;
  • A implementação de protocolos de uso progressivo da força nas operações, incursões e abordagens policiais; 
  • A suspensão das operações repressivas nas comunidades até que haja reavaliação dos métodos empregados.

Relembre o caso

Era uma manhã de domingo e, segundo moradores, acontecia um campeonato de futebol amador quando policiais militares entraram na comunidade e iniciaram disparos. A operação resultou na morte a tiros de Caíque e de outro homem, que não foi identificado.

Os agentes teriam ordenado que o adolescente colocasse as mãos para cima e, em seguida, atiraram no garoto, que não resistiu. Na ocasião, uma moradora que preferiu não se identificar concedeu entrevista ao Correio 24 Horas, afirmando que os policiais mandaram o garoto correr e atiraram na perna. “Depois, pegaram ele e outro homem, que eu não sei quem é, e levaram para o beco. Lá teve mais tiros, executaram ele sem necessidade, o menino não entrava em nada de crime”, afirmou.

Durante dias, moradores protestaram com faixas, cartazes e em um só grito por justiça por mais uma vítima da violência policial. Mas foram expostos a mais uma situação violenta quando, no dia 9 de outubro, um homem foi agredido com um tapa no rosto por um policial durante um dos protestos, ação registrada em vídeo.

De acordo com informações da Polícia Militar, os agentes envolvidos foram afastados das atividades operacionais e encaminhados ao Departamento de Promoção Social da PM, onde recebem acompanhamento psicológico especializado, participam de atividades de apoio emocional e de palestras voltadas à valorização da vida e aos valores humanos, permanecendo sob acompanhamento administrativo até a conclusão das investigações.

O caso está sendo investigado, em caráter administrativo, pela Corregedoria-Geral da PM, e, na esfera criminal, pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).

Caíque era um jovem cheio de vida e sonhos. Era barbeiro e estava prestes a começar um novo trabalho. Circula nas redes sociais um vídeo em que a mãe do jovem, dona Joselita dos Santos, relata ter sido ameaçada e impedida de se aproximar do filho: “Não tive nem tempo de socorrer meu filho.”

O caso de Caíque se soma a outros episódios recentes de letalidade policial em Salvador. No dia 22 de setembro, o jovem autista Marcus Vinicius Alcântara, de 26 anos, foi morto a tiros durante uma ação policial no bairro do Rio Sena, no Subúrbio Ferroviário. Segundo testemunhas, ele teria se assustado e corrido, sendo então alvejado por militares da Rondesp BTS.

Em agosto, o músico e produtor cultural Ivonei de Assis da Cruz, de 40 anos, foi morto com quatro tiros na cabeça durante uma ação policial, quando voltava para casa, no bairro do Curuzu.

Já em 28 de maio, Jadson dos Santos Neves, de 31 anos, foi assassinado com sete tiros na região da Estrada das Barreiras, também durante uma operação policial.

Em todos os casos, as vítimas eram homens e meninos negros, e a justificativa da corporação foi a de sempre: que houve troca de tiros nas comunidades. No entanto, ao atirar em uma área densamente habitada, a polícia assume o risco de atingir moradores, civis e transeuntes. O que não é raro em operações do tipo, frequentemente marcadas por feridos e mortes.

Somente neste ano, as chacinas decorrentes de ações policiais – nas quais três ou mais pessoas são mortas numa mesma ação envolvendo agentes de segurança durante operações – em Salvador, e na Região Metropolitana (RMS) vitimaram 85 pessoas, contra as 40 mortes na mesma categoria em 2024: um aumento de 112%. Todas as vítimas identificadas pelo levantamento são negras, 98% destas do sexo masculino, e 5% eram adolescentes. Os números são de levantamento do Instituto Fogo Cruzado.

Compartilhar:

.

.
.
.
.

plugins premium WordPress