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Movimento Mulheres Negras Decidem e Revista Afirmativa realizam lançamento de guia para cobertura do projeto político das mulheres negras

O objetivo da cartilha é oferecer uma ferramenta para que os jornalistas se preparem mais adequadamente às mudanças do cenário político. O lançamento faz parte da Semana por Reparação e Bem Viver, mobilizada pela Marcha das Mulheres Negras.
Imagem: Andressa Franco

Por Andressa Franco

Há menos de um ano das próximas eleições gerais, e atentas ao projeto político das mulheres negras para o Brasil, o Movimento Mulheres Negras Decidem (MND) realizou na manhã deste domingo (23) o lançamento do “Mensageiras Confiáveis: Guia para cobertura do projeto político das mulheres negras”, na Casa MND, em Brasília (DF). 

A cartilha foi produzida em parceria com a Revista Afirmativa, e reúne uma série de textos críticos que analisam de maneira aprofundada o percurso histórico da arquitetura política brasileira sob a ótica do movimento de mulheres negras, evidenciando como as estruturas de poder e os processos institucionais moldaram a sociedade ao longo do tempo, além de apontar caminhos para a construção de práticas jornalísticas qualificadas.

O objetivo é oferecer uma ferramenta importante para que os jornalistas se preparem mais adequadamente às mudanças do cenário político, apoiando os profissionais da comunicação a qualificar suas abordagens na cobertura de fatos e fenômenos sociais sobre mulheres negras na política institucional.

O lançamento aconteceu durante a atividade “Vozes que Movem o Mundo: Estratégias de Comunicação Política e a Cobertura de Mulheres Negras nas Eleições”, parte da programação oficial da Semana por Reparação e Bem Viver.

Diante de uma casa lotada, a coordenadora de comunicação do MND e responsável por mediar a atividade, Adriane Primo lembrou que o projeto nasceu do início da sua trajetória na organização, quando, enquanto assessora de imprensa em 2022. Ela conta que enfrentou grandes dificuldades para emplacar nos grandes jornais as pautas das 27 mulheres negras apoiadas pelo projeto Estamos Prontas, que visava fortalecê-las para disputar cargos políticos. Destas, apenas duas foram eleitas.

“Ali identificamos fatores que atravessaram o projeto político de mulheres negras. As limitações orçamentárias para a contratação de uma equipe de comunicação que as acompanhasse antes, durante e depois do processo eleitoral.”

Adriane comenta que a duras penas conseguiram inserções em grandes mídias, mas foram os veículos independentes que mais ecoaram esses projetos políticos. Nos grandes jornais, por outro lado, se depararam com redações muito embranquecidas, onde o repórter poderia até se interessar pela pauta, mas esbarrava em editores que não aprovavam. 

“Ao mesmo tempo, a gente percebe que isso vem mudando. Temos mulheres negras que trabalham nesses meios de comunicação, e isso faz toda a diferença. Elas nos procuram para ouvir nosso olhar e reflexão sobre os eventos políticos.”

Presente no espaço acompanhando a programação, Laina Crisóstomo, que foi vereadora pela mandata coletiva Pretas por Salvador de 2020 a 2024, avaliou como a publicação permite refletir sobre os desafios enfrentados pelas mulheres negras que disputam espaços de poder. 

“Em quatro anos de mandato a gente vivenciou situações perversas, especialmente por conta de uma comunicação irresponsável. É preciso pensar como a comunicação pode ser estratégica, mas também feminista, antirracista, e que pensa o projeto político das mulheres negras como um projeto estrutural, coletivo e de nação.”

Compondo a mesa de abertura, a coordenadora executiva e editora de conteúdo da Afirmativa, Alane Reis, recuperou a memória do nascimento da Revista Afirmativa, no final do ano de 2013, quando era estudante de jornalismo na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

“Era um período em que de 50 estudantes de uma sala de jornalismo, apenas cinco eram negros. Desse lugar de vários estudantes que tinham vergonha de dizer que eram cotistas, pensamos: vamos contar essa história de como a luta por políticas afirmativas foi constituída e assim fizemos nossa primeira edição impressa.”

Alane também celebrou as referências da imprensa negra que vieram antes. Co-coordenadora da comunicação da Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, ela ressaltou ainda que o movimento de mulheres negras brasileiras é hoje o centro da luta política feminista negra do mundo. “Não é à toa que a gente tá aqui dizendo que Brasília, esse lugar extremamente branco em que as mulheres negras compõe apenas 2% do parlamento desse país, virou a capital dos sonhos das mulheres negras.”

Juliana Gonçalves, co-coordenadora de Comunicação da Marcha das Mulheres Negras, celebrou a importância da publicação “Mensageiras Confiáveis”, especialmente com a proximidade de 2026.

“Esse lançamento traz uma história que muitas vezes é invisibilizada. A comunicação sempre foi uma ferramenta que a gente utiliza e sabe da importância. Então esse vai ser um Guia que a gente vai usar muito nas nossas formações políticas, no ano que vem que vai ser um momento de muita disputa política.”

Refletindo sobre o trabalho de comunicação construído pela Marcha desde 2022, a ativista afirmou que foi criado um grande ecossistema, desde as comunicadoras territoriais, jornalistas, criadoras de conteúdo, fotógrafas, designers e videomakers, entre outras. 

“Nós estamos vivendo hoje a coroação de um processo coletivo. Em 2015, fomos testemunhas oculares do que uma marcha causa no movimento de mulheres negras. Se a gente passou por esses últimos 10 anos, que foram históricos, é porque estamos organizadas há muito tempo.”

A professora Rosane Borges encerrou a mesa com considerações a respeito da tradição das marchas históricas do movimento negro, como em 1995 com a Marcha Zumbi dos Palmares, que redesenhou a política institucionalizada na época e com a Marcha Zumbi +10, em 2005. Em 2015, foi a vez das mulheres negras afirmarem seu lugar de sujeitas políticas. 

“Criamos do ponto de vista de uma tradição política uma ideia de que nós mulheres negras não toleraremos mais apenas denunciar. A gente vem aqui dizer para o Brasil e para o mundo que estamos disputando uma outra concepção de Estado. Porque uma Marcha que tem a coragem e a ousadia de dizer por Bem Viver e Reparação, coloca em cheque o próprio modelo de desenvolvimento desse governo.”

Christiane Gomes, da Fundação Rosa Luxemburgo e Dríade Aguiar, da Mídia Ninja também estiveram presentes na mesa. Além do lançamento, a manhã foi preenchida por um encontro entre comunicadoras e jornalistas negras para debater as narrativas que nos cercam, e as que escolhemos construir; e a Marcha como linguagem coletiva, a palavra como arma e cura. O livreto “Mensageiras Confiáveis” foi distribuído gratuitamente no final do evento. 

Semana por Reparação e Bem Viver

O evento promovido pelo MND é um dos muitos que estão ocupando a capital federal desde a última quinta-feira (20) e seguirão até a próxima quarta-feira (26), como parte da programação oficial da Semana por Reparação e Bem Viver. As agendas são promovidas por coletivos e organizações de todos os cantos do país e também internacionais, mobilizadas em torno da Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, que acontece no dia 25 de novembro. Para conhecer toda a programação, acesse os perfis da Marcha nas redes sociais. 

A Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver é uma mobilização de caráter nacional e internacional, que acontece quase 10 anos depois de mais de 100 mil mulheres negras marcharem em 2015 contra o Racismo, a Violência e pelo Bem Viver – um processo histórico que impactou e definiu os rumos da nossa organização política no Brasil e na América Latina.

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