Por Catiane Pereira*
O Brasil deve levar ao menos 16 anos para igualar as taxas de conclusão do ensino médio entre jovens brancos e jovens negros e indígenas, caso mantenha o ritmo atual de redução das desigualdades educacionais. A projeção é de um estudo do Todos Pela Educação divulgado no dia 17 de novembro, baseado em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Segundo a pesquisa, 1 em cada 4 jovens de até 19 anos está fora da escola sem ter finalizado a educação básica. Muitos abandonam os estudos para trabalhar ou por falta de interesse, o que revela o impacto direto das condições de vida sobre a permanência escolar.
Os dados mostram que 69,5% dos jovens negros e indígenas concluíram o ensino médio até os 19 anos. Entre brancos e amarelos, o índice chega a 81,7%. Há dez anos, a distância era ainda maior, 46% entre jovens negros e 66,3% entre brancos. Apesar da melhora, o avanço médio de 0,8 ponto percentual ao ano ainda é insuficiente para eliminar as desigualdades no curto prazo.
O estudo também revela desigualdades profundas quando analisada a renda. Entre os 20% mais pobres, apenas 60,4% dos jovens concluíram o ensino médio até os 19 anos. Entre os 20% mais ricos, o índice chega a 94,2%. Mesmo com a redução de 15,3 pontos percentuais nessa diferença ao longo da última década, o cenário atual aponta que a equiparação plena só deve ocorrer por volta de 2048.
Para o Todos pela Educação, programas que enfrentam diretamente os motivos de evasão podem acelerar essa mudança. Um deles é o Pé-de-Meia, que oferece uma bolsa mensal de R$ 200 a estudantes do ensino médio, além de depósitos anuais e um bônus adicional pelo Enem, valores que só podem ser retirados após a conclusão do curso. Até o fim de 2024, o benefício alcançou 3,95 milhões de estudantes, metade das matrículas do ensino médio no país.
Os motivos para não concluir a etapa variam conforme a renda. Entre os jovens mais pobres, 8,3% deixaram a escola para trabalhar, 10,6% abandonaram por desinteresse e 18,1% ainda estavam estudando apesar do atraso escolar. No grupo mais rico, esses índices são significativamente menores: 2,8% precisaram trabalhar, 1,5% relataram falta de interesse e apenas 3,2% ainda estavam na escola aos 19 anos.
Para a instituição, os números reforçam que desigualdades raciais e socioeconômicas seguem determinando quem consegue ou não concluir a educação básica na idade adequada. Sem políticas estruturais voltadas para permanência, renda e proteção social, alertam os pesquisadores, o país continuará reproduzindo desigualdades históricas no acesso à educação.
Com informações de Folha de S.Paulo e Agência Brasil*


