Por Jonas Pinheiro
Neste mesmo 12 de agosto, em 1798, há 226 anos atrás, as ruas da provincial Salvador amanheceram efervescidas com uma série de boletins manuscritos espalhados por pontos estratégicos. No total eram 11 boletins, que foram chamados de “sediciosos” pela Coroa Portuguesa, e convocavam os cidadãos a se rebelar contra o império e fundar a “República Bahiense”.
No conteúdo dos manuscritos pedia-se abertamente por liberdade e igualdade, convocando os homens a insurgir-se contra o a escravização, exigindo o fim da discriminação social e racial. Numa época em que poucos eram alfabetizados e a imprensa era proibida pela Metrópole portuguesa, os boletins afixados em lugares estratégicos permitiram que as mensagens se propagassem entre aqueles não eram letrados através do boca a boca.
Os principais líderes da insurreição, Luís Gonzaga das Virgens, Lucas Dantas do Amorim Torres, Manuel Faustino dos Santos Lira e João de Deus do Nascimento, todos negros, foram presos, enforcados e esquartejados, tendo parte de seus corpos espalhados pelas ruas de Salvador. O movimento ficou conhecido como Revolta dos Búzios (ou ainda Revolta dos Alfaiates ou Revolta das Argolinhas). Os nomes derivam das maneiras que os insurgentes utilizavam para se identificar, e das características dos que participaram. Eles utilizavam búzios em pulseiras e argolas para se reconhecerem entre si, sendo a denominação Alfaiate devido à função que muitos dos participantes exerciam.
A Revolta dos Búzios é um marco para a comunicação brasileira, tendo em vista que foi através dos boletins sediciosos que um grupo de pessoas negras se organizou para contrapor as mazelas sofridas pela população oriundas da África. Isso, mesmo antes do surgimento oficial da imprensa no Brasil, que viria a acontecer apenas em setembro de 1808.
A historiadora Ana Flávia Magalhães Pinto defende que 1798 é o pontapé inicial do que viria a ser a imprensa negra brasileira. Os ecos e legados de Búzios ecoaram pela história, e em 1833 surge o primeiro jornal oficial da imprensa negra, o pasquim Homem de Côr, que a partir de sua terceira edição passou a ser chamado O Mulato ou o Homem de Côr e era produzido na Tipografia Fluminense de Francisco Paula de Brito.
1798 é o início de uma história que reverbera até os dias atuais, nesta mídia negra que você está lendo agora, e em tantas outras espalhadas pelo país e que são frutos dessa trajetória de luta de nossa população.
Viva a Revolta dos Búzios
Viva a mídia negra