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Acervo de filmes inéditos do Instituto Cultne é exibido durante atividade na UnB e coloca a memória no centro do debate sobre Reparação

A agenda se incorpora ao Programa de Extensão “Caminhos Abertos: Epistemologias Antirracistas e Antissexistas”, e faz parte da Semana por Reparação e Bem Viver, mobilizada pela 2ª Marcha das Mulheres Negras.
Imagem: Andressa Franco

Por Andressa Franco

Na manhã desta segunda-feira (24), a Universidade de Brasília (UnB) recebeu importantes debates sobre a preservação da memória e história da população negra. Os Programas de Pós Graduação em História e em Direitos Humanos e Cidadania da Universidade em parceria com o Instituto Cultural Cultne e Núcleo de Mulheres Negras na Cultne realizaram a atividade Caminhos Abertos: Protagonismos de Mulheres Negras na Educação.

A agenda se incorpora ao Programa de Extensão “Caminhos Abertos: Epistemologias Antirracistas e Antissexistas”, e faz parte da Semana por Reparação e Bem Viver, mobilizada pela 2ª Marcha das Mulheres Negras.

Das 10h às 13h30 o público pôde acompanhar a primeira mostra de exibição de filmes inéditos e exclusivos, que foram restaurados pela Cultne, contemplada pela primeira vez pelo Programa Ibercharvios, que desde 1998 apoia instituições que guardam importantes patrimônios documentais em diversos países.

“Isso é importante, porque muitas organizações negras têm acervos de audiovisual, mas não têm apoio”, afirma Ana Flávia Magalhães, professora da UnB e uma das organizadoras da atividade. Para ela, o evento é uma demonstração de como o movimento negro, com a liderança de mulheres, tem trabalhado para a preservação da memória. E, mais do que preservar, dar acesso a ela. “Porque não adianta ter esses registros se eles ficam escondidos em quartos escuros, em gavetas que ninguém abre.”

A historiadora celebrou ainda a importância de realizar a atividade em meio à mobilização para a Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver. “Temos uma tradição política de ocupar as ruas, produzimos memória sobre isso e nesse momento é muito importante lembrar o que toda essa movimentação significa para uma luta ancestral, que é uma luta também pelo futuro.”

A programação continua pela tarde. A partir das 16h, haverá um debate público no Auditório do Instituto de Ciências Humanas/PPGHIS da universidade. Haverá uma mesa com as presenças de Jana Guinond, coordenadora do acervo da Cultne; Clarisse Miranda – Programa de TV Afro Day News; Duda Nascimento – Programa de TV Cobertura Cultne – Memórias; Luana Paschoa, também do Acervo Cultne; Yasmin Ialuny, do Programa de TV Cobertura Cultne. Ana Flávia Magalhães fará a mediação.

A Cultne TV é um canal de TV possui um núcleo com mais de vinte mulheres negras, sendo doze apresentadoras de programas de TV, distribuídas pelo Brasil e Exterior, como por exemplo: Rio de Janeiro, São Paulo, Berlim e Londres. O canal possui um Núcleo de Mulheres Negras, com 26 integrantes, sendo 12 delas apresentadoras.

“Meu recado é para a comunidade preta: nós temos um canal de TV, 12 apresentadoras negras. É preciso divulgar e consumir. Nós somos muito bons no que fazemos, mas em termos de financiamento, a gente precisa se provar o tempo todo”, afirma Jana Guinond, que lembra que a programação do canal pode ser acessada de forma online.

Quando pensa em memória e reparação, a comunicadora ressalta que se tratam de palavras que não andam separadas. A memória, explica, nos ajuda a entender onde erramos e como podemos avançar em estratégias na luta por direitos.

“No acervo por exemplo a gente tem acesso a [gravações] de Mãe Beata com 49 anos, microfone na mão, na década de 1980, falando as mesmas coisas que continuamos falando 40 anos depois. Então tem alguma coisa errada. Por isso não dá pra falar de reparação sem falar de memória.”

Direto dos Estados Unidos, a fundadora da organização Black Women Disrupt e bolsista na Universidade de Howard, Zakiya Carr também marcou presença na atividade. A ativista esteve no Brasil na Marcha para Zumbi, de 1995, e recorda dos cartazes que exigiam ações afirmativas. Em 2015, retornou ao país para a Marcha da Mulheres Negras contra o Racismo, a Violência e pelo Bem Viver. 

“Esse é o momento Sankofa. Estamos voltando para o passado para ver o futuro. E nosso futuro é coletivo, mais unidas, em comunidade. Porque as pessoas que buscam fazer danos às nossas comunidades estão sempre trocando informação.”

Zakiya avalia que a população negra enfrenta desafios para fazer o mesmo, especialmente por não controlamos os meios de comunicação. “Não é a primeira vez que mostramos solidariedade internacional sobre Bem Viver, sobre nossa resposta ao racismo. Nós temos comunidade e podemos nos inspirando, criar espaços de co-criação, e pontes.”

Para ela, a tradição política da população negra de marchar por seus direitos é histórica. “Quando as políticas não nos servem, e quando o sistema nos ataca, qual outro meio que temos? Nos organizarmos e falamos em voz mais alta o que demandamos. É uma forma poderosa de mostrar a união dos nossos pensamentos e agendas.”

O Instituto Cultne, dedicado à Memória e História da População Negra, tem como base o seu extenso acervo de cultura e a produção intelectual negra, criado a partir de 1980. Considerado o maior acervo audiovisual de cultura negra da América Latina, contém registros dos movimentos negros, principalmente de mulheres Negras desde há 40 anos. É Patrimônio nas esferas municipal e estadual e, em 2025, o Acervo Cultne foi reconhecido como Manifestação da Cultura Brasileira, por meio da aprovação no Congresso e sanção da Presidência da República do Projeto de Lei nº 2345/2023.

Semana por Reparação e Bem Viver

O evento promovido pelo Cultne é um dos muitos que estão ocupando a capital federal desde a última quinta-feira (20) e seguirão até a próxima quarta-feira (26), como parte da programação oficial da Semana por Reparação e Bem Viver. As agendas são promovidas por coletivos e organizações de todos os cantos do país e também internacionais, mobilizadas em torno da Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, que acontece no dia 25 de novembro. Para conhecer toda a programação, acesse os perfis da Marcha nas redes sociais. 

A Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver é uma mobilização de caráter nacional e internacional, que acontece quase 10 anos depois de mais de 100 mil mulheres negras marcharem em 2015 contra o Racismo, a Violência e pelo Bem Viver – um processo histórico que impactou e definiu os rumos da nossa organização política no Brasil e na América Latina.

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