Por Karla Souza
Após três anos do crime que chocou o Brasil e o mundo, o julgamento do feminicídio da adolescente indígena Kaingang Daiane Griá Sales, de 14 anos, chegou ao fim na última sexta-feira (14), no Foro da Comarca de Coronel Bicaco, no Rio Grande do Sul. O réu Dieison Corrêa Zandavalli foi condenado a 36 anos de prisão.
O júri, que teve início no dia 13 e se estendeu até a noite da sexta-feira, contou com a participação de 11 testemunhas e representantes do Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS).
O assassino foi condenado por homicídio qualificado como feminicídio e por estupro de vulnerável, com as qualificadoras de motivo torpe, motivo fútil, dissimulação, recurso que dificultou a defesa da vítima e para assegurar a ocultação de outro crime.
O MPRS sustentou que o assassinato teve como objetivo ocultar a violência sexual e garantir a impunidade do agressor. O réu estava preso preventivamente desde 2021.
Relembre o caso
Na madrugada de 1º de agosto de 2021, Daiane saiu de uma festa na Vila São João e aceitou uma carona de Dieison (36). Seu corpo foi encontrado três dias depois, em uma lavoura a aproximadamente 12 quilômetros do local do evento. O promotor Vilmar Schaefer destacou que a área onde a jovem foi morta era de difícil acesso, conhecida apenas por moradores da região.
A perícia constatou que Daiane foi asfixiada com um objeto que não foi localizado. O laudo apontou um sulco no pescoço compatível com o uso de uma corda. Além disso, partes do corpo da adolescente foram dilaceradas por animais antes de ser encontrada. A brutalidade do crime gerou ampla repercussão e mobilização de organizações indígenas e de direitos humanos nacionais e internacionais.
O caso de Daiane não é isolado. Na mesma comunidade, sua irmã mais velha também sobreviveu à violência de gênero, realidade compartilhada por outras mulheres indígenas. De acordo com o Relatório Técnico sobre Homicídios contra Mulheres e Adolescentes Indígenas no Brasil, elaborado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) em parceria com o Ministério dos Povos Indígenas, os feminicídios indígenas aumentaram 500% entre 2003 e 2022. As vítimas são majoritariamente jovens, solteiras e com baixa escolaridade.
O estudo revelou que, entre 2003 e 2022, foram registrados 394 feminicídios de mulheres indígenas no Brasil, sendo o Centro-Oeste a região com maior incidência. Mato Grosso do Sul lidera as estatísticas, com 149 casos. Além da violência física, as vítimas enfrentam agressões psicológicas, ameaças e humilhações. A negligência estatal em garantir proteção e justiça contribui para a vulnerabilidade dessas populações.