Segundo a Polícia Civil, somente nos dez primeiros meses de 2023, 75 mulheres foram assassinadas por seus companheiros no estado
Da Redação*
Uma mulher identificada como Maria José Vieira Pinto, de 56 anos, foi morta por disparos de arma de fogo pelo companheiro em via pública na região de Gameleira, Ilha de Vera Cruz (BA), na manhã da última terça-feira (21).
O suspeito pelo feminicídio tentou fugir do local, mas foi contido por populares até a chegada da Polícia Militar. De acordo com a Polícia Civil, o homem foi preso em flagrante pelo feminicídio. Com ele foi apreendida a arma do crime, que será avaliada pela perícia.
Maria José Vieira Pinto foi morta enquanto trabalhava. A motivação do crime teria sido a não aceitação do suspeito em dividir bens após pedido de divórcio da mulher.
Terceiro feminicídio em 24h
Maria José Vieira Pinto foi a terceira vítima de feminicídio cujo caso ganhou repercussão no estado nas últimas 24 horas.
Na segunda-feira (20), Tamires Macedo, de 34 anos, foi encontrada morta dentro de casa, em Periperi, no Subúrbio Ferroviário de Salvador. Na casa também estava o corpo de Raimundo dos Santos, de 35 anos. Informações iniciais apontam que uma faca encontrada no local deve ter sido a arma do crime. A suspeita é de que Tamires tenha sido morta, e em seguida Raimundo tenha tirado a própria vida.
Já na noite do último domingo (19), a enfermeira Renata Santana, de 37 anos, foi morta a tiros dentro de uma residência no bairro Mussurunga. As informações são de que o autor do crime seria o marido da vítima, identificado como André Luís Sena de Oliveira, de 44 anos. Um ex-sargento do exército, que teria cometido suicídio na sequência. O corpo do militar foi encontrado no Setor I. O caso está sendo investigado pela 1ª Delegacia de Homicídios (DH/Atlântico).
De acordo com números da Polícia Civil nesta terça-feira (21), somente nos dez primeiros meses de 2023, 75 mulheres foram assassinadas por seus companheiros na Bahia.
Em 2023, o Instituto Fogo Cruzado mapeou 154 mulheres baleadas em Salvador e Região Metropolitana. Destas, 97 morreram.
II Jornada pela Vida das Mulheres Negras
Na noite da última terça-feira (21), a Rede de Mulheres Negras do Nordeste realizou a abertura da II Jornada pela Vida das Mulheres Negras, que este ano traz como tema: “A omissão do Estado no combate ao feminicídio no Nordeste”. Anualmente, a agenda se alinha aos 21 Dias de Ativismo Contra a Violência Contra as Mulheres, e desta vez, conta com programações entre os dias 17 de novembro a 4 de dezembro, em todos os estados da região Nordeste.
A Jornada surge a partir do interesse da Rede Nordeste em mobilizar organizações com perfis sociais, políticos, culturais, artísticos para atuar de maneira coletiva no combate à violência doméstica e ao feminicídio, que tem ceifado a vida de diversas mulheres, sobretudo negras, na região.
“A segunda Jornada traz essa perspectiva de incidência para a gente falar da omissão do Estado, porque a gente percebe que o que tem acontecido é o aumento do feminicídio e as maiores vítimas permanecem sendo as mulheres negras”, comenta Halda Regina, coordenadora da Rede de Mulheres Negras do Nordeste e da Ayabás – Instituto da Mulher Negra do Piauí.
Informações que coincidem com dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2023, que aponta o Nordeste como a segunda região com maior casos de feminicídio no Brasil no ano passado. Dados do levantamento mostram que a região alcançou uma média de 1,4 casos por 100 mil mulheres, se equiparando à média nacional, ficando atrás apenas do Centro-Oeste, com 2,0 feminicídios.
Segundo dados obtidos pela Agência Tatu via Lei de Acesso à Informação, a violência contra a mulher aumentou 22% no Nordeste no primeiro semestre de 2023, em comparação com o mesmo período de 2022. A Bahia, por exemplo, teve um aumento de 58% nos casos de violência em 2022, e se tornou o estado do Nordeste com o maior número de feminicídios de acordo com relatório da Rede de Observatórios da Segurança.
“Vários desses casos de feminicídio no Nordeste envolvem impunidades com julgamentos que culminam em penas brandas, mulheres com medidas protetivas que ainda sim foram assassinadas”, destaca Halda.
*Com informações do iBahia e do Bahianoar