Chef de cozinha é vítima de racismo em restaurante de culinária africana no Recife

O crime foi cometido pela professora Marcela de Sena que usou o termo “crioula” ao se referir à chef e dona do restaurante Dùn Ajeun, Tayná Passos

Por Elizabeth Souza

A chef de cozinha Tayná Passos foi vítima de racismo dentro do próprio restaurante, o Dùn Ajeun Culinária Afrodiaspórica, localizado na área central do Recife (PE). O crime aconteceu no último domingo (7) e foi praticado pela professora de escola pública Marcela de Sena, que, ao reclamar da demora no preparo do seu pedido, usou o termo pejorativo “crioula” para se referir à proprietária do estabelecimento. Em vídeo divulgado nas redes sociais, Tayná diz  que a agressora ainda tentou silenciá-la afirmando ter “cifrão”.

“Marcela já chegou alterada tratando meus funcionários com desdém e desrespeito (…) Ela [também] tentou me silenciar e foi violenta de diversas maneiras. Ela disse que tinha dinheiro, que não tinha me desrespeitado e que todo mundo era igual, como todos os brancos falam”, conta Tayná. No vídeo, ela também reclama da atitude omissa de um homem que acompanhava Marcela e que tentou amenizar a situação.

Elencado como um dos termos racistas que deve ser abolido do vocabulário cotidiano, crioulo/crioula é uma nomenclatura que surgiu durante o período da colonização no Brasil para se referir pejorativamente a pessoas negras escravizadas que nasciam na “América” e não no continente africano. 

Procurada pela reportagem, a advogada de Tayná, Débora Gonçalves, que é presidenta da Comissão de Igualdade Racial da OAB Pernambuco, informou que a jovem fez um boletim de ocorrência na sede do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) em Recife, onde atua a delegacia especializada para crimes de racismo. “As testemunhas estão sendo ouvidas e em breve a agressora será intimada para prestar esclarecimento”, informa Débora.

Além disso, Tayná também realizou denúncia no “Recife Sem Racismo”, plataforma online lançada pela Prefeitura do Recife. “Estamos aguardando o encaminhamento do  Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) que vai sair para que após a escuta de todos, o processo siga para o juizado criminal de Recife”, conclui a advogada. 

De acordo com Tayná, essa não é a primeira vez que um episódio de racismo ocorre em seu estabelecimento. “Geralmente as pessoas não acreditam que eu sou a proprietária e chef do restaurante, sempre ficam surpresas”. Na expectativa que atitudes criminosas como a que sofreu no último domingo não se repitam mais, a chef de cozinha espera que o caso não fique impune.

“Desejo que as instituições se posicionem e façam valer a justiça. Racismo é crime, violência contra mulher também é crime”, repudia.

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