Por Camila G. Lima Rosa*
Triimm. O alarme do celular tocou, já são 4h da manhã e ainda está escuro lá fora, mais é hora de levantar. Tomar banho, me arrumar, passar o café, esquentar comida, passar uniforme, arrumar marmita, organizar a mochila, fazer lanche… Tudo pronto, agora estou atrasada para pegar o ônibus. Vou correndo até o ponto e arrumando o cabelo, a unha e a maquiagem, pois não tenho tempo de ir ao salão com essa vida toda tumultuada.
Pronto. Consegui pegar o ônibus das 5h, vou conseguir chegar no horário hoje, agora entrar no busão, sai do busão, entrar no busão, e sai do busão é isso mesmo são 3 viagens para chegar o meu destino, são 2h20 de viagem e mais 40 minutos de caminhada. São 7h da manhã, cheguei na hora e vamos para a primeira aula, Linguística, literatura, inglês. Ufa intervalo. Ah! Esqueci de mencionar para vocês, mas acho que já devem ter percebido, sou estudante de letras e inglês. Pronto. Acabaram as aulas, vamos almoçar que ainda temos o segundo tempo para atuar, nessa vida nada fácil que parece fantasia que atuo diariamente como a mulher maravilha.
Agora é só correria, depois do almoço é hora lecionar, ser uma professora negra e poder influenciar na discussão das questões raciais no momento que vivemos dentro da sala de aula de inglês, de literatura, de reforço e para finalizar de redação, saio com a alma lavada de dever cumprido, onde consigo passar o conhecimento adquirido, com amor e dedicação. Agora é hora de voltar pra casa pois ainda tenho que enfrentar três ônibus.
São 16h e ainda estou a caminho, não vou conseguir chegar a tempo para buscar meu filho. Não vi ele ainda hoje, e com o atraso dos ônibus, cheguei atrasada novamente, de longe vejo meu filho sozinho no pátio da escola a minha espera, chega doer o coração, mas quando ele me vê a caminho e corre ao meu encontro e me abraçar, compreendo que é por ele todo esse sacrifício que eu faço.
Na caminhada até em casa meu filho vem contando como foi seu dia, das suas aulas, das suas leituras e suas atividades físicas. Ouvindo tudo com muita atenção percebo que meu filho está crescendo e isso aperta o meu coração, tenho medo de estar perdendo uma fase de sua vida, mais espero que um dia ele entenda que fiz tudo isso para ele ter uma vida melhor que a minha.
Chegamos em casa agora se inicia mais uma nova rotina, é arrumar a casa, ajudar na tarefa, fazer a janta, lavar a roupa, preparar minhas aulas e organizar a minha vida universitária. Não sei nem por onde começar, mais sei a hora que vou parar, quase pertinho da hora que o Trimm novamente tocar.
* Estudante de Letras e Inglês, mãe e escritora. Uma mulher negra e ativa na luta do feminismo negro. Eu cresci ouvindo que por ser negra teria que provar mais 100 vezes o meu talento. É cansativo e doloroso. Se você não tiver uma força extraordinária, não consegue passar por isso. Mas apesar de tudo, descobri que vim ao mundo para lutar. Minha escrita e o meu conhecimento ninguém pode tirar. Sou uma guerreira! Sou resistente! E nunca deixarei de lutar!