Diretora de escola pública do RS solicita recolhimento do livro O Avesso da Pele alegando “linguagem inapropriada”

A obra de autoria do escritor negro Jeferson Tenório foi premiada no Jabuti 2021 entrou no Plano Nacional do Livro Didático em 2022

A obra de autoria do escritor negro Jeferson Tenório foi premiada no Jabuti 2021 entrou no Plano Nacional do Livro Didático em 2022

Por Karla Souza

Imagem: Reprodução

Vencedor do Prêmio Jabuti 2021 e incluído no Programa Nacional do Livro Didático durante o governo de Jair Bolsonaro, no ano de 2022, o livro “O Avesso da Pele”, do autor negro Jeferson Tenório, tem sofrido tentativas de censura, com a alegação que seu conteúdo seria impróprio para estudantes do ensino médio. O livro aborda temas sensíveis, como o racismo, o sistema educacional falido e as relações entre pais e filhos.

O episódio mais recente partiu na última sexta-feira (01), da diretora da Escola Ernesto Alves, localizada em Santa Cruz do Sul (RS), Janaina Venzon, que publicou um vídeo nas redes sociais criticando a obra, segundo sua avaliação, apresentam “vocabulários de baixo nível”.

“Lamentável o Governo Federal através do MEC adquirir esta obra literária e enviar para as escolas com vocabulários de tão baixo nível para serem trabalhados com estudantes do ensino médio”, declarou Janaina na publicação. Ela também solicitou a retirada dos exemplares da obra da instituição de ensino.

Tal atitude levou a Secretaria de Educação do Estado a emitir nota afirmando que não orientou o recolhimento da obra, mas sim uma avaliação pedagógica. 

“A Secretaria da Educação do Rio Grande do Sul (Seduc) não orientou para que a obra O avesso da pele, de Jeferson Tenório, integrante do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), do Ministério da Educação (MEC), fosse retirada de bibliotecas da rede estadual de ensino. O uso de qualquer livro do PNLD deve ocorrer dentro de um contexto pedagógico, sob orientação e supervisão da equipe pedagógica e dos professores.”, informa a nota da pasta.

Em entrevista à Carta Capital, o autor Jeferson Tenório lamentou as tentativas de censura, ressaltando a importância de discutir questões como racismo e violência doméstica no ambiente escolar. Ele enfatizou que seu livro não se limita a conteúdos sexuais, mas busca promover o debate e a conscientização sobre temas relevantes para a sociedade brasileira.

A editora Companhia das Letras, responsável pela publicação do livro, emitiu uma nota de indignação através de suas redes sociais em resposta ao vídeo divulgado por Janaína Venzon. A editora declarou condenar veementemente a retirada de exemplares do livro, afirmando que tal ato viola os princípios fundamentais da educação e da democracia, prejudicando o debate cultural e impedindo o desenvolvimento do pensamento crítico e reflexivo dos estudantes. 

Além disso, a Companhia das Letras informou que  repudia qualquer forma de censura que restrinja o acesso dos estudantes a obras literárias sob pretexto de protegê-los de conteúdos considerados inadequados, especialmente quando baseada em opiniões pessoais e interpretações distorcidas de trechos isolados.

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