Desde a última quinta-feira (5), um clima de apreensão tomou conta de todas as pessoas integrantes ou aliadas à luta racial no país. A primeira notícia a circular na imprensa convencional, constava que o Ministério dos Direitos Humanos era protagonista de uma série de casos de assédio moral. Ainda naquele mesmo dia, a organização Me Too Brasil emitiu uma nota em que expunha 14 denúncias de assédio sexual contra Silvio Almeida, titular da pasta até então.
A Revista Afirmativa, enquanto veículo midiático e organização negra e feminista, vem a público se solidarizar com todas as denunciantes. Sabemos das dificuldades das mulheres, sobretudo negras, ocuparem os espaços de poder. E quando alcançam, sofrem uma série de violências perpetradas pelo racismo, sexismo e misoginia. É contra essas opressões nossa luta diária.
Sabemos também, como para as pessoas negras é negado a presunção de inocência. O racismo julga e condena sem direito à defesa ou ao contraditório. Desta forma, é dever do governo, e das autoridades legais, uma apuração célere e transparente sobre o caso, oferecendo amplo direito de defesa.
A prática de assédio sexual é algo recorrente na admistração pública, desde os altos escalões aos cargos mais baixos. O compromisso do governo em expor e tomar as devidas atitudes nestes casos, não deve ser exclusiva de situações em que envolve um ministro negro.
Também neste ensejo, repudiamos como a mídia convencional e corporativa tratou o caso, expondo a Ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, a quem prestamos nossa solidariedade. É direito de qualquer vítima de violência sexual não querer ter sua história publicizada. A maioria dos veículos da imprensa brasileira ignoraram isto e publicaram o caso mesmo sem consentimento ou respostas da ministra.
Em casos como este, toda a comunidade negra perde. A luta por representatividade e ocupação dos espaços de poder é uma de nossas bandeiras. Por isso, reiteramos que é preciso que as pessoas negras que assumam cargos no governo estejam alinhadas com os movimentos negros coletivamente organizados, que são as instâncias que possuem acúmulo teórico e metodológico sobre como fazer política de igualdade racial neste país.
Por fim, reiteramos que nossas pautas e nossas lutas são coletivas e maior do que qualquer personalidade ou conceito. A branquitude está sempre a postos à espera de qualquer erro ou equívoco das nossas e dos nossos para seguir com seu projeto de perpetuação de poder e manutenção dos privilégios. Mas o acúmulo de nossas lutas é longínquo e ancestral. Apesar de tudo, seguiremos.