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Famílias contestam versão da PM sobre assassinato de jovens em Camaçari (BA)

Corpos foram retirados de dentro de casa e levados por policiais. Familiares negam confronto e pedem justiça
Imagem: Reprodução

Por Karla Souza

Gilson Jardas de Jesus Santos (18) e Luan Henrique (20). Mais dois jovens mortos, mais duas famílias dilaceradas e desestruturadas pelo genocídio promovido pela Polícia Militar da Bahia, com aval do Estado. Os dois foram assassinados a tiros na Estrada do Cetrel, em Camaçari, cidade da Região Metropolitana de Salvador (BA), na última terça-feira (8). Familiares e moradores denunciam execução e covardia por parte dos policiais militares. A corporação, por sua vez, nega a versão e como de praxe afirma que houve confronto armado.

De acordo com relatos da mãe de Gilson, Maria Silvânia, os dois estavam sentados em frente à casa dela, quando uma viatura da PM passou, fez o retorno e realizou a abordagem. Ela afirma que os policiais mandaram os jovens entrarem no imóvel e, em seguida, vizinhos escutaram disparos. “Eu perguntei onde estava a arma, entrei na casa e pedi para que eles mostrassem. Não tinha absolutamente nada. Quando entrei na viatura, para tentar filmar a viatura, eles me empurraram. Fui jogada para fora”, relatou ao G1.

Gilson era o mais velho de três irmãos, trabalhava em uma fazenda de eucaliptos e estudava para se batizar como Testemunha de Jeová. Luan Henrique era ajudante de pedreiro, pai de uma criança de um ano e oito meses, e sua companheira está grávida. Ambos cresceram juntos e, segundo familiares, não tinham envolvimento com nenhuma atividade criminosa. “Meu filho e o Luan não têm mais como se defender, mas vou lutar e provar que esses policiais só vieram com objetivo de matar alguém, não importava quem fosse. Meu filho era trabalhador e estava sentado em casa, esperando a namorada, para ir na minha casa almoçar junto com o Luan”, disse Maria Silvânia ao portal.

A Polícia Militar afirmou, em nota, que os dois homens fugiram ao ver a guarnição e dispararam contra os agentes, que reagiram. Segundo a corporação, as vítimas foram socorridas ao Hospital Geral de Camaçari, mas não resistiram. Ainda de acordo com a PM, foram apreendidas duas pistolas calibre .40, uma espingarda calibre 12 e uma réplica de pistola, que estariam com os jovens. A Polícia Civil informou que a 4ª Delegacia de Homicídios de Camaçari investiga o caso, registrado como morte por intervenção de agente de segurança pública.

As famílias questionam a versão oficial e apontam a ausência de marcas de tiros na casa, além da falta de cápsulas no local, o que reforça as suspeitas de execução. A circulação do vídeo e os depoimentos de moradores colocam em xeque a narrativa apresentada pelos policiais, reacendendo o debate sobre o uso da força e a atuação da polícia nos bairros periféricos. O caso soma-se a uma série de ocorrências semelhantes registradas na Bahia, que está no topo do ranking nacional de mortes por intervenção policial.

Letalidade policial segue há anos dizimando a população negra e periférica na Bahia

De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a Bahia ultrapassou o Rio de Janeiro em 2022 como o estado com mais mortes provocadas por policiais, somando 1.464 naquele ano. Em 2023, o número aumentou para 1.699. Cinco das dez cidades brasileiras com maior letalidade policial estão na Bahia, incluindo a capital, Salvador.

Entre 2020 e 2022, 97% das pessoas mortas pela polícia em Salvador eram negras, segundo levantamento do Fórum Permanente pela Redução da Letalidade Policial na Bahia. Desse total, 91% tinham entre 15 e 29 anos. A maioria dos assassinatos ocorreu em bairros marginalizados, onde o aparato de segurança pública segue operando com lógica militarizada e seletiva, frequentemente sem responsabilização dos agentes envolvidos.

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