Por Karla Souza
Na última sexta-feira (26), no Museu Nacional da República, em Brasília (DF), um debate reuniu jornalistas negras para discutir o racismo e o machismo na comunicação pública e privada. Durante o evento, que integra a programação da 17ª edição do Festival Latinidades, elas compartilharam suas experiências pessoais e profissionais, destacando a importância de uma comunicação feita por pessoas de origens diversas e com financiamento adequado. A necessidade de pautar temas de interesse da população e de enfrentar os desafios impostos por uma sociedade desigual foi um dos pontos centrais da discussão.
A mesa intitulada “Mulheres Negras na Mídia: Inovação e Impacto na Comunicação Pública e Privada” contou com a participação de Luciana Barreto, âncora e editora-chefe do Repórter Brasil Tarde, da TV Brasil; Joyce Ribeiro, apresentadora, escritora e jornalista da TV Cultura; e Mabel Lorena Lara, jornalista e Secretária de Turismo de Cali, na Colômbia. A mediação ficou por conta de Jéssica Santos, diretora administrativo-financeira do Instituto Commbne.
As jornalistas discutiram como a presença de mulheres negras nos meios de comunicação traz novas perspectivas às histórias contadas. Elas enfatizaram a importância de ter diversidade nas redações para refletir a realidade de diferentes grupos sociais e combater a desinformação. A combinação entre desinformação e a ascensão da extrema direita foi citada como um desafio significativo para a promoção e defesa de direitos e da democracia.
Jéssica Santos destacou que, apesar de as mulheres negras serem a maioria da população brasileira, elas ainda são poucas nas mídias, especialmente em cargos de chefia e liderança. Ela enfatizou a importância da comunicação feita por pessoas comprometidas com a democracia e o estado democrático de direito, especialmente em tempos de atos antidemocráticos.
Mabel Lorena Lara compartilhou sua experiência como jornalista e gestora pública, discutindo a intersecção do racismo, sexismo e misoginia em sua trajetória. Ela relatou que, na Colômbia, mulheres e homens negros se destacam em áreas como cultura e esporte, mas destacou a importância de mostrar às meninas que elas podem ser o que quiserem e viver bem na sociedade. “Eu queria trazer uma coisa diferente também. Mostrar para as meninas da região onde eu nasci e de lugares periféricos também que elas poderiam ser o que elas quisessem ser”, disse a jornalista sobre a importância de se tornar um exemplo para futuras gerações.
A presença de comunicadoras negras nos meios de comunicação, tanto públicos quanto privados, foi apontada como crucial para a democratização da informação e a inclusão de vozes diversas na sociedade.
“Fiz a maior parte da minha carreira na comunicação pública, sabendo que o meu patrão, sendo o povo, eu tenho que falar com o povo e para o povo”, contou Luciana sobre parte da sua experiência profissional. Ela destacou também que o financiamento é essencial para a comunicação pública, permitindo a cobertura de eventos importantes e a produção de conteúdo relevante para a população.
Joyce Ribeiro destacou a importância de trazer diversidade e pluralidade para as redações de uma forma ainda mais obstinada. “Me pego hoje fazendo esse exercício diário de entender a minha função dentro de um veículo público. Eu acho que esse olhar de disparador de discussões internas na redação, nas funções de pautas, de pensamentos que passariam ali batido também faz parte desse nosso olhar, desse meu olhar que eu tento levar para a redação.”
Joyce enfatizou que a presença de profissionais diversos nas redações é fundamental para garantir que todos os assuntos sejam abordados de maneira inclusiva e com diferentes perspectivas, combatendo olhares enviesados e racistas.
Além de compartilhar suas experiências, as comunicadoras discutiram possíveis soluções para aumentar a representatividade de mulheres negras na mídia, como programas de mentoria e políticas de inclusão nas empresas de comunicação.