Por Elizabeth Souza
Integrando a agenda da Semana por Reparação e Bem Viver, aconteceu na manhã deste domingo (23), na Casa Comum, em Brasília (DF), o diálogo “Mulheres Negras, Dados e Justiça Climática: Caminhos para 2026”. Durante a ocasião, foi realizado o lançamento do Sumário Executivo sobre Justiça Climática que é uma prévia do inédito Estudo Nacional sobre a Marcha das Mulheres Negras, previsto para ser lançado em março de 2026.
O Sumário foi lançado em parceria com três organizações e apresentado por representantes de cada uma delas: Vitória Régia, diretora executiva da Gênero e Número; Adriana Avelar, analista de advocacy do Observatório da Branquitude; e Bárbara Barboza, coordenadora de Justiça Racial e de Gênero da Oxfam. O documento traz dados relevantes para pensar como a crise climática tem afetado a vida das mulheres negras no Brasil.
Dentre os principais dados apresentados pelo documento, um dos que mais chamam atenção diz respeito ao número de vítimas fatais de inundações no Brasil. Nesse sentido, o estudo constatou que as mulheres negras morrem duas vezes mais que as brancas dentro desse cenário, sendo 20% das vítimas.
“O estudo também serve para mostrar como gênero, raça e território são coisas que devem ser indissociáveis da justiça climática”, ressaltou Vitória Régia, em uma análise crítica sobre a dificuldade do Estado produzir dados interseccionais, iniciativa que vem sendo protagonizada pela sociedade civil. “Particularmente, acho uma vergonha para o Brasil [não produzir dados nesse sentido]”, completa Vitória.
Outras análises apontadas pelo estudo dizem respeito à insegurança alimentar. “71% das pessoas responsáveis pelo domicílio que vivem em algum grau de insegurança alimentar eram negras”, diz trecho do documento.
“O grande desafio e também a grande potência de trabalhar com dados é mostrar que as mulheres não são apenas vítimas das violências, mas também protagonistas das ações para mudar a sociedade”, reforça Vitória.
Protagonismo que tem apontado caminhos de esperança encabeçadas por essas mulheres e que merecem e precisam adentrar os espaços de poder e decisão e serem reconhecidas como soluções reais para o mundo.
“O fim do mundo não chegou porque as mulheres negras estão segurando o céu em seus territórios”, reforça Amanda Avelar.
Percepção partilhada por Bárbara Barboza, que enfatizou a importância da Marcha das Mulheres Negras, nesse sentido. “As mulheres negras movem o mundo e a Marcha é uma tecnologia que reúne e faz com que organizações se comprometam com a agenda da Marcha, e esse encontro é muito sobre esse comprometimento nosso”, disse.
A Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver acontece nesta terça-feira (25), com concentração a partir das 9h, no Museu da República, em Brasília (DF).
“A gente não vai arrefecer essa luta, não existe cansaço que nos faça parar de buscar o Bem Viver, queremos viver bem, não nos interessa uma democracia que rifa nossos corpos”, concluiu Adriana Avelar.
Semana por Reparação e Bem Viver
O evento promovido pelo MND é um dos muitos que estão ocupando a capital federal desde a última quinta-feira (20) e seguirão até a próxima quarta-feira (26), como parte da programação oficial da Semana por Reparação e Bem Viver. As agendas são promovidas por coletivos e organizações de todos os cantos do país e também internacionais, mobilizadas em torno da Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, que acontece no dia 25 de novembro. Para conhecer toda a programação, acesse os perfis da Marcha nas redes sociais.
A Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver é uma mobilização de caráter nacional e internacional, que acontece quase 10 anos depois de mais de 100 mil mulheres negras marcharem em 2015 contra o Racismo, a Violência e pelo Bem Viver – um processo histórico que impactou e definiu os rumos da nossa organização política no Brasil e na América Latina.


