Investigação revela que a Zara tinha um código para alertar os funcionários quando pessoas negras entravam na loja

De acordo com informações divulgadas nesta quarta-feira (20) pela Polícia, a loja Zara criou um código secreto, o “Zara Zeou”, para alertar os funcionários para ficarem atentos e acompanharem pessoas negras ou com "roupas simples" que entrassem no estabelecimento. O "alerta" era dado pelo sistema de som da loja.

Gerente da loja foi indiciado por racismo depois de delegada negra ser barrada em loja

Por Andressa Franco

De acordo com informações divulgadas nesta quarta-feira (20) pela Polícia Civil, a loja Zara criou um código secreto, o “Zara Zerou”, para alertar os funcionários para ficarem atentos e acompanharem pessoas negras ou com “roupas simples” que entrassem no estabelecimento. O “alerta” era dado pelo sistema de som da loja.

A Zara passou a ser investigada, após a delegada negra, Ana Paula Barroso, ser barrada ao tentar entrar em uma unidade da loja num shopping em Fortaleza. O caso repercutiu em 14 de setembro e nesta segunda-feira (18), resultou em indiciamento por racismo contra o gerente da unidade, Bruno Filipe Simões Antônio de 32 anos.

A Zara alegou que não aceita nem tolera discriminação, e que a abordagem não teve motivações raciais, mas sim relacionada aos protocolos de saúde. De acordo com a loja a delegada estava sem máscara, tomando um sorvete, quando entrou no estabelecimento.

Ana Paula, no entanto, afirma que não foi essa a razão pela qual foi barrada. Apesar de estar, de fato, comendo, procurou seguranças do shopping para se informar sobre a existência de alguma proibição. Como não era o caso, voltou para a loja, onde o gerente pediu desculpas, e tentou justificar afirmando que tinha amigos negros.

Imagens de vídeo obtidas pela Polícia Civil, mostram que no mesmo dia em que a delegada esteve na loja, clientes brancos entraram no estabelecimento consumindo alimentos e sem o uso correto da máscara.

O caso de racismo foi denunciado no dia 14 de setembro, e cinco dias depois, a Polícia Civil obteve autorização da Justiça para apreender equipamentos de registro de vídeo da loja para investigação. Vídeo que chegou a viralizar nas redes sociais.

A Polícia Civil afirmou em nota que “concluiu as investigações relacionadas ao inquérito policial que investigava um caso de racismo” e “o suspeito do caso foi indiciado pelo crime de racismo”.

De acordo com a Comissão de Promoção da Igualdade Racial da Ordem dos Advogados do Brasil no Ceará (OAB-CE), o crime de racismo contra Ana Paula, pode resultar em reclusão de um a três anos e multa ao funcionário suspeito de cometer a discriminação racial, além de punição cível à loja.  Ana Paula é diretora adjunta do Departamento de Proteção aos Grupos Vulneráveis.

Na tarde desta terça-feira (19), a Zara emitiu novo posicionamento sobre as investigações afirmando que não teve acesso ao relatório da autoridade policial até sua divulgação nos meios de comunicação e negando o crime.

Reparação Coletiva

No dia 20 de setembro, a Educafro (Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes) e o Centro Santo Dias de Direitos Humanos, chegaram a entrar com uma ação civil pública na 15ª Vara Cível do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) pedindo R$ 40 milhões de indenização à empresa. As organizações requerem “reparação de dano moral coletivo e dano social infligido à população negra”.

Outras exigências das entidades na ação, foram a revisão dos contratos de terceirização da segurança por parte da Zara, para que ela exija de empresas contratadas um rigoroso treinamento de vigilantes e supervisão. Além de que a companhia exija de seus fornecedores adoção de medidas antirracistas para que contratos sejam assinados, revisão imediata de protocolos de abordagem

Compartilhar

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *