Leonardo diz estar “surpreso” após ter nome incluído na ‘lista suja’ do trabalho escravo pelo Ministério do Trabalho

Uma das fazendas do cantor foi arrendada para um produtor de soja que mantinha trabalhadores em alojamentos precários, sem banheiros, nem água potável, e em meio a uma infestação de morcegos e até fezes de animais

Da Redação

O cantor Leonardo se pronunciou na última segunda-feira (7) sobre a inclusão do seu nome na chamada lista suja do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). A inclusão veio depois do resgate de seis trabalhadores em condições de trabalho análogas à escravidão em duas fazendas de sua propriedade, em Jussara (GO).

Em um vídeo publicado em suas redes sociais, ele afirmou estar surpreso com a associação do seu nome ao crime, cuja pena prevista é reclusão de 2 a 8 anos, além de multa, de acordo com o Código Penal.

O sertanejo explicou que em 2022 arrendou parte de uma de suas fazendas, a Lakanka, para um produtor de soja. “Nisso surgiram funcionários nessa fazenda que eu não conheço, nunca ouvi falar. E de repente eu fui visitado pela Justiça do Trabalho”, relata. 

“Eu já plantei tomate, eu sei como é que é. A vida é difícil lá. Eu, do meu coração, jamais faria isso. Então, eu acho que há um equívoco muito grande sobre uma pessoa que o Brasil inteiro conhece […]. Eu não me misturo nessa lista aí que eles fizeram de trabalho escravo, eu sou totalmente contra esse tipo de coisa”, tentou justificar. Ele informa ainda que a multa já foi paga, e reforçou que não conhece “quem estava lá naquelas casinhas” ou quem os havia colocado. 

O inquérito civil sobre o caso foi aberto pelo Ministério Público do Trabalho em 2023, tendo corrido em sigilo e sido arquivado em abril de 2024.

A defesa de Leonardo argumentou ao G1 que “todos os problemas foram resolvidos” depois de firmado um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), ainda que “não fosse responsabilidade” direta de Leonardo a gestão dos funcionários envolvidos, mas do arrendatário da fazenda.

Trabalhadores eram mantidos em dormitórios precários

As fazendas Lakanka e Talismã, propriedades de Leonardo, foram alvo de fiscalização em novembro de 2023. Na visita, foram encontradas diversas irregularidades trabalhistas, entre elas a manutenção de trabalhadores em condições análogas à escravidão. Dos 18 funcionários encontrados, seis foram resgatados por estarem em condições degradantes, incluindo um adolescente de 17 anos realizando trabalho proibido.

Imagem: Reprodução Relatório Fotográfico da Inspeção do MTE

A falta de registro formal de empregados, ausência de contratos de trabalho e não anotação nas carteiras de trabalho são outras violações da lista de irregularidades.

Na Lakanka, segundo descrição do relatório do MTE, o alojamento onde os trabalhadores eram mantidos tinha dormitórios precários, sem banheiros e com camas improvisadas. Eles viviam em meio a uma infestação de morcegos e até fezes de animais, além dos indícios de passagem de animais peçonhentos como cobras e escorpiões. Tomar banho e lavar roupa só era possível de mangueira e com água de poço. Sem instalações sanitárias adequadas, os trabalhadores usavam árvores próximas para urinar e defecar. Faltava acesso à água potável e a alimentação era insalubre.  

Já a fazenda Talismã é citada porque faz parte do mesmo conjunto de operações agrícolas da primeira. Além disso, a fiscalização constatou a ausência de equipamentos de proteção individual (EPIs) no local.

O valor das rescisões pagas às vítimas resgatadas foi de R$ 39.157,50, e o valor do dano moral individual estabelecido foi de R$ 225 mil. 

A Fazenda Talismã se estende por 1 mil hectares, é avaliada em R$ 60 milhões e tem a pecuária bovina como principal atividade. O espaço é utilizado para lazer da família e amigos do cantor, possuindo uma mansão, quadras esportivas, cavalos, lago, jetski, quadriciclo, igreja, piscina, área de jogos, churrasqueira, curral. 

Lista Suja

A Lista Suja do MTE é um cadastro de empresas e pessoas físicas flagradas explorando trabalhadores em condições análogas à escravidão. Ela funciona como uma ferramenta de transparência pública, atualizada semestralmente. Estar na lista pode resultar em restrições de crédito, bloqueio de financiamentos públicos e sanções econômicas. Para ser incluído, o infrator passa por um processo administrativo que verifica as irregularidades constatadas em fiscalizações.

Acesse a Lista Suja do Trabalho Escravo

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