Marca pernambucana desenvolve produtos e artigos voltados às danças afro-diaspóricas

A idealizadora é diretora de dança, coreógrafa e bailarina Nagô no Afoxé Oyá Alaxé, e sofria com a falta de representatividade nas lojas tradicionais

A idealizadora é diretora de dança, coreógrafa e bailarina Nagô no Afoxé Oyá Alaxé, e sofria com a falta de representatividade nas lojas tradicionais

Por Andressa Franco

Imagem: Thiago Paixão

A dança nagô é fundamentada nos movimentos dos orixás do candomblé nagô de Pernambuco. É como define Helaynne Sampaio, mulher negra pernambucana, mestre em Educação Contemporânea, diretora de dança, coreógrafa e bailarina Nagô no Afoxé Oyá Alaxé. Em 2006, ela fundou o Balé Nagô Ajô, que descreve como primeiro grupo de dança a ressignificar o termo “balé” ao reverenciar o Igbalé, casa de culto a Egun.

Nesses espaços, é responsável pela criação artística do figurino: roupas, calçado e acessórios. E foi a vivência nessa tarefa e enquanto bailarina nagô que chamou a atenção de Helaynne para a falta de representatividade nas lojas e artigos de dança. Assim, também em 2006, deu início à marca autoral afrocentrada HS Ajô Negô em Estampas. O objetivo da marca é valorizar as singularidades dos corpos e a religiosidade africana, fortalecendo a autoestima e visibilizando profissionais das danças afro-diaspóricas.

“A população negra tem a moda como ferramenta de construção identitária conectada orgulhosamente à sua ancestralidade, tal como instrumento contra todas as formas de racismo, enaltecendo o brilho que é vim de África”, explica Helaynne, que também é Yalaxé Olefun do Ilê Obá Aganjú Okoloyá – Terreiro de Mãe Amara.  

Helaynne Sampaio, mulher negra pernambucana, mestranda em Educação Contemporânea, e criadora da marca – Imagem: Divulgação

A pernambucana trabalha com confecção de peças ajô nagô sob medidas para crianças e adultos com estampas próprias. De roupas e acessórios a ecobags. Uma das principais peças é o “Cropped Potencialize Seu Axé”, com mangas largas e mais solto, possibilita melhor mobilidade para executar os passos realizados nas danças afros.

Lhaysa Brito também é bailarina nagô, e se identifica com a dificuldade de encontrar peças que lhe permitam performar. “O figurino tem um significado que vai além da estética. São fortalecimentos de nossa identidade, uma referência à nossa religiosidade. Os figurinos contam histórias, são criações que se transformam em memórias.”

Lhaysa Brito é bailarina nagô e fala da importância de um figurino que fortaleça a identidade – Imagem: DIvulgação

Foi no Balé Nagô que Lhaysa construiu sua autoestima e fortaleceu sua consciência política e de combate ao racismo religioso. “Por que o bailarino clássico é um profissional da dança e a gente não? É uma preocupação que não existe no mundo da dança.”

Os produtos podem ser encontrados na loja física, no Espaço de Estética e Moda Ewá Dúdú Maria Helena Sampaio, no Recife. Ou através da loja virtual no Instagram: @hs.ajonagoemestampas.

Quinta Nagô

Outro espaço em que a HS marca presença é a feira de empreendedorismo de mulheres negras que acontece no evento “Quinta Nagô”. Realizado pelo Afoxé Oyá Alaxé e idealizado pela sua presidenta, a Yalorixá Maria Helena Sampaio do Terreiro de Mãe Amara. O evento acontece de forma pública e gratuita, toda terceira quinta do mês, na frente da Sede do Afoxé Oyá Alaxé, no Pátio de São Pedro em Recife (PE), a partir das 18h.

O projeto nasce como fortalecimento e incentivo às diversas expressões artísticas da cultura popular, matrizes africanas e afro indígenas. O objetivo é fomentar um espaço político e cultural de divulgação artística e ações afirmativas voltadas para o fortalecimento do povo negro, periférico e de comunidades tradicionais.

“O objetivo é dar visibilidade ao espaço do Pátio São Pedro. Ali é o berço da cultura popular de Pernambuco. Vivemos tanta discriminação social, racial e religiosa, que eu criei a Quinta Nagô pra gente se aquilombar”, pontua a presidenta do Afoxé Oyá Alaxé.

O evento é marcado por apresentações artísticas de diversas expressões culturais, como maracatus de baque solto e virado, afoxé, coco, música urbana, ciranda, capoeira, caboclinho, entre outros.

Para Helaynne, o projeto é fundamental para a sociedade pernambucana, por fazer o que os órgãos governamentais “não conseguem”: o intercâmbio entre grupos de cultura popular para além dos ciclos festivos, e potencializar o trabalho desses artistas e produtores culturais. “Mostra o quanto a partir da união entre o povo negro viemos resistindo ao longo dos séculos e realizando grandes projetos políticos de fortalecimento da nossa identidade e cultura”, finaliza.

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