“Nós não somos contra e não vamos nos colocar contrarias a nenhuma mulher negra”, diz Vilma Reis sobre disputa interna no PT da Bahia

Por Daiane Oliveira do Notícia Preta 

 

A corrida eleitoral para a Prefeitura de Salvador promete ser acirrada. Apenas no Partido dos Trabalhadores (PT), onde a competição está mais tensionada, são quatro pré-candidatas e candidatos oficialmente. Dentre os nomes mais comentados estão o da socióloga Vilma Reis, a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial do Governo do Estado (Sepromi), Fabya Reis, além do deputado estadual Robinson Almeida e o ex-ministro da Cultura, Juca Ferreira. Sem candidatura oficial, a major Denice, responsável pela Ronda Maria da Penha, pode ser a quinta pré-candidata do PT na Bahia.

Mesmo sem ser filiada ao partido ou ligada aos movimentos sociais, a major recebe o apoio do governador Rui Costa e do senador Jaques Wagner, que juntamente com o presidente do diretório estadual do PT, Éden Valladares, levaram o nome para o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva. A disputa interna do partido gerou incômodo em alguns movimentos, já que a pré-candidatura de Vilma Reis foi anunciada desde 2 de julho de 2019, mas não teve apoio da executiva do diretório estadual do partido.

Diante das incertezas e muitas especulações da imprensa baiana, a socióloga Vilma Reis declara que não é contrária ou adversária de nenhuma mulher negra e reforça que a o movimento “Agora é ela” pauta uma candidatura negra.

“Nós não somos contra e não vamos nos colocar contrarias a nenhuma mulher negra. O debate que a gente faz é contra o patriarcado. O debate que a gente faz enfrentamento, todo o nosso diálogo na sociedade, porque essa eleição é nacional. A pauta que a gente colocou de ter candidaturas de mulheres negras tem relação com todas que marcharam e foram a marcha de mulheres negras. E nós entendemos que depois do brutal assassinato da nossa irmã Marielle Franco, a maior resposta que nós podemos dar, que esse País pode ter, é a eleição de mulheres negras de esquerda. Mulheres aguerridas e que se posicionam pelo fim do encarceramento e que nós afirmamos o abolicionismo penal. Nós nos levantamos contra o horror da guerra às drogas e nós estamos nos posicionando”, afirma Vilma Reis.

Foto: Ismael Silva

“Nós não temos mulheres negras adversárias da gente, isso é fundamental. O nosso debate é direcionado para aqueles que jamais iriam escolher uma mulher, a não ser quando um movimento político, – a maré negra feminista, se levantou em Salvador. E essa maré negra feminista levantada pelo Fórum Marielle, pela Mahin – Organização de Mulheres Negras, nós tomamos direção sobre esse movimento no Brasil inteiro, por isso que o debate é nacional. É todos os coletivos, Coletivos de Mulheres Negras do PT, se levantando. Quando a gente diz “Agora é ela”, são as mulheres negras nos espaços de poder com poder”, reitera a pré-candidata à Prefeitura de Salvador.

“A gente não tem e não quer nenhuma mulher como nossas adversárias. Como feministas temos coragem e sustentamos a nossa posição. Nós sabemos que a nova estética da política são as mulheres negras. Sabemos que sem as mulheres negras o Brasil não vai…”

Vilma Reis

 

Para Vilma Reis, as eleições de 2020 devem definir 2022. A militante aproveita para falar sobre o machismo, patriarcado e racismo na política e sociedade brasileira.

“Tentar aniquilar a posição do movimento feminista, tentar impor as soluções do patriarcado… Neste momento momento há um desafio para todo o movimento feminista nacional, em todas as suas matrizes e nós não ficaremos em silêncio. Há um desafio a todo o movimento negro nacional, porque essa eleição de Salvador, aqui é onde se abate a vergonha. São 470 anos de ocupação colonial do poder e nós não aceitaremos. E se não viesse essa maré negra da rua para dentro do partido, jamais nós estaríamos fazendo essa revolução que está acontecendo neste momento no Brasil. Aqui a situação é muito grave, porque a África do Sul, que teve um sistema formal de apartheid, em 1948, a luta se estabeleceu e em 1994 Mandela já era presidente. E qual é a situação que nós temos? Nos Estados Unidos tem o Barack Obama, desde 75 que negros e negras lutavam em Atlanta e em outras cidades para eleger seus prefeitos e prefeitas negras. E nós conseguimos que em 2008 Obama fosse presidente dos Estados Unidos. Qual a vergonha que se abate no mundo? É o Brasil. Qual a vergonha que se abate na maior cidade negra fora d’África é aqui na Bahia e nós não vamos fazer silêncio sobre isso. Não faremos silêncio sobre isso. Chega, estamos no século XXI”, completa a socióloga e ativista dos direitos humanos.

Em texto publicado através das redes sociais, a professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e militante do PT, Patrícia Valim, questiona sobre a estratégia dos homens que estão nos posições de poder do partido.

“Essa estratégia com o objetivo de dividir o coletivo de mulheres do movimento negro para controlá-las e esvaziar a pré-candidatura de Vilma Reis é absolutamente violenta pelo seu lastro histórico. Homens brancos, e senhores de engenho e de gentes escravizadas, utilizam a mesma estratégia de dividir para dominar e evitar a rebeldia e a fuga de homens e mulheres para os quilombos… A hora é de desobediência e resistência ao que há de mais rude e cruel no patriarcalismo de esquerda. Sem esquecer que a nossa existência, especialmente das mulheres negras, já é resistência”, aponta a docente.

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