Por Késsia Carolaine
A pequena Tumi Mboup, nascida em 22 de setembro em Belo Horizonte (MG), finalmente foi registrada oficialmente e tem sua certidão de nascimento. A dificuldade dos pais, a historiadora Kelly Cristina da Silva e o sociólogo Fábio Rodrigo Vicente, para registrar a filha com o nome de origem africana chegou ao fim na última quinta-feira (2), no Rio de Janeiro (RJ), após uma série de recusas em cartórios e na Justiça de Minas Gerais.
O caso começou quando o casal tentou registrar a recém-nascida no Hospital Sofia Feldman, que dispõe de uma unidade do Cartório de Venda Nova, na capital mineira. A justificativa para a recusa foi a de que “Mboup” seria um sobrenome e, portanto, não poderia compor o prenome da criança. A situação se repetiu no Cartório do Terceiro Subdistrito.
Diante dos impedimentos, Fábio Rodrigo protocolou um pedido judicial. No entanto, a Justiça de Minas Gerais também se posicionou contra o registro, alegando, além da questão do sobrenome, que a pronúncia do nome seria “difícil”. Com isso, a certidão de nascimento da bebê ficou suspensa por mais de uma semana, impossibilitando a emissão de documentos e a realização de procedimentos básicos, como consultas médicas.
Poucos dias depois, o pai, que reside no Rio de Janeiro (RJ), decidiu tentar o registro na cidade. O resultado foi imediato e sem obstáculos. Em um vídeo compartilhado nas redes sociais, ele comemorou o fim do impasse. “Não teve crise nenhuma. A gente estava muito angustiado. Estou muito aliviado. E o nome ficou tão bonito, eu não conseguia ver minha filha com outro nome.”
A mãe, Kelly Cristina, descreveu a reação da família à notícia. “Aqui em casa foi um chororô. É uma alegria saber que agora ela tem CPF, que dá para sair com ela, fazer todas as consultas. É um alívio gigante.”
A escolha do nome
Para o casal, a escolha do nome “Tumi Mboup” vai muito além de uma simples identificação; é um ato político consciente de reafirmação identitária. O pai, Fábio Rodrigo, explica que a decisão está enraizada em um movimento de reafricanização, funcionando como um gesto de resistência cultural e histórica contra o legado da colonização, que sistematicamente apagou as origens e tradições africanas.
Ao optar por um nome de origem senegalesa para a filha nascida no Brasil, a família busca reconectar a criança à sua ancestralidade, enfatizando a importância de preservar e celebrar essa herança desde o primeiro documento de vida. A escolha, portanto, é vista como uma forma de afirmar positivamente uma identidade negra e combater os apagamentos culturais impostos historicamente.