Segunda Marcha de Afrodescendentes em Buenos Aires denuncia racismo e reivindica visibilidade

O dia 8 de novembro é uma homenagem à heroína negra María Remedios del Valle, reconhecida como Mãe da Nação. Em 2013, a data foi instituída como “Dia Nacional dos Afro-Argentinos e da Cultura Afro”

Por Andressa Franco

Na última sexta-feira (8), as ruas de Buenos Aires foram tomadas pela Segunda Marcha de Afrodescendentes. A mobilização percorreu o trajeto da Plaza de Mayo até o Congresso Nacional, denunciando o racismo, a discriminação racial, a xenofobia e a intolerância, além de reivindicar justiça social, direitos humanos e reparação histórica.

A data é uma homenagem à heroína de guerra María Remedios del Valle. Ela foi uma mulher negra que lutou nas Guerras de Independência da Argentina e foi reconhecida como Mãe da Nação, mas a despeito de sua importante contribuição nas batalhas, se viu obrigada a mendigar nas ruas de Buenos Aires no final da vida.

María morreu em 8 de novembro de 1847. Em 2013, foi promulgada a Lei Nacional 26.852, que institui a data como “Dia Nacional dos Afro-Argentinos e da Cultura Afro”, e incorpora a data ao calendário escolar. Em maio deste ano, começou a circular na Argentina uma nova nota de 10 mil pesos com a imagem de María Remedios, e do General Manuel Belgrano, que a nomeou a capitã do exército.

A Argentina não é um país branco

A Argentina se entende como uma nação constituída essencialmente por herdeiros da imigração europeia e branca. Uma narrativa estabelecida no final do século XIX e fortalecida no século XX, sobrevivendo até hoje, a ponto de a principal demanda dos movimentos afro-argentinos ser o reconhecimento no censo demográfico nacional.

Uma importante raiz da assimilação desses discursos pelos argentinos está na educação. O que se explica quando olhamos para Domingo Faustino Sarmiento, que é considerado o pai da educação da Argentina, e presidiu o país de 1868 a 1874. Sarmiento acreditava na superioridade da cultura europeia e via os povos indígenas e os afro-argentinos como obstáculos ao progresso da nação. Grande admirador da França, ele defendia a imigração europeia como um meio de “branquear” e melhorar a população. 

Apenas em 2022, quando foi realizado o último censo do país, a pergunta sobre autodeclaração afrodescendente esteve presente em todos os cadernos de pesquisa, pela primeira vez. Isso porque para o Estado estava subentendido que a população argentina era integralmente branca. A conquista foi fruto de forte incidência de grupos afro-argentinos, e os resultados mostram que o país concentra 302.936 pessoas negras, mais que o dobro do último levantamento. 

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