Eu, mulher negra mal-agradecida

Eu estava errada Hoje vim me assumir mal-agradecida, mas isso pode ser corrigido, prometo. É isso que acontece quando você erra, como todo ser humano, e também consegue reconhecer este erro, além de tentar não repeti-lo. 

Por Sacha Aguiar Ventura*

Eu estava errada

Hoje vim me assumir mal-agradecida, mas isso pode ser corrigido, prometo. É isso que acontece quando você erra, como todo ser humano, e também consegue reconhecer este erro, além de tentar não repeti-lo. 

Eu errei e venho errando continuamente, me desculpem.

Eu errei quando exigi meus direitos, direitos como mulher e direitos como mulher negra. Não deveria tê-lo feito. Afinal, quem sou eu para dizer ao mundo que há algo de muito errado por aqui? Só cheguei aqui, na Terra, há apenas 30 anos. O que eu sei da vida? O que sei sobre direitos? Quem sou eu, para acreditar que algo me vem sendo negado? Ou que vem sendo negado aos meus iguais? Quão imatura seria eu, ao acreditar que posso erguer a voz e essa voz seria tão forte e alta quanto daqueles que já conduzem a Terra e escrevem as regras há séculos antes de mim?

Me desculpem, eu errei.

Errei quando li Angela Davis e Conceição Evaristo. Errei mais ainda ao entender que histórias como de Maya Angelou e Carolina Maria de Jesus se entrecruzam com a minha. Errei gravemente ao escutar Karol Conká e Beyoncé e me sentir acolhida. Errei ao ler Djamilla Ribeiro e Carla Akotirene e me sentir empoderada e representada.

Eu errei.

Errei quando reconheci o pré julgamento nos olhares dos outros, aqueles diferentes de mim. Errei quando entendi de onde vinha aquele julgamento. Errei quando segui de cabeça erguida e tranças balançando, como uma coroa antes perdida. Errei quando cantei “Deus é uma mulher preta e por natureza, sei que vou sobreviver.”

Eu errei?

Errei, eles me disseram. E eu acreditei. Eu me senti tão mal. Eu não entrei nos locais designados aos outros, porque eles não foram feitos para mim. Eu chorei. Eu me senti excluída e menos mulher. Eu julguei os meus iguais que se misturavam tão bem entre eles, os diferente de nós, para quem o mundo foi feito.

Eles erraram.

E agora eu erro, mas não pelas regras deles. Eu faço as minhas próprias e se peço desculpas, é por ter demorado tanto a segui-las. 

 

*Bióloga e especialista em Gestão de Empresas e Negócios.

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