Quilombo Rio dos Macacos vive cenário de insegurança após assassinato de membro da comunidade

Uma semana depois do assassinato do quilombola identificado apenas como Pedro Henrique, que foi encontrado com marcas de pauladas no quilombo da comunidade Rio dos Macacos, o clima no local segue sendo de insegurança. O corpo foi encontrado ), na noite da última terça-feira (25) por outro morador da comunidade, que fica em Simões Filho, região metropolitana de Salvador (BA.

Sem rondas da polícia no território e sem atualizações da investigação, moradores se sentem desprotegidos

Por Andressa Franco
Imagem:
Reprodução

Uma semana depois do assassinato do quilombola identificado apenas como Pedro Henrique, que foi encontrado com marcas de pauladas no quilombo da comunidade Rio dos Macacos, o clima no local segue sendo de insegurança. O corpo foi encontrado ), na noite da última terça-feira (25) por outro morador da comunidade, que fica em Simões Filho, região metropolitana de Salvador (BA.

Em seu perfil nas redes sociais, o quilombo fez um apelo na última sexta-feira (28) informando que, após a denúncia do assassinato, câmeras de segurança instaladas próximas às casas de lideranças comunitárias do quilombo haviam sido desligadas. A publicação pedia urgentemente que rondas sejam feitas no território e que a Secretaria de Segurança Pública da Bahia interfira no caso.

Como o quilombo está localizado na mesma área em que foi construída a Base Naval de Aratu, o lugar foi o limite até onde as viaturas da Polícia Militar chegaram na noite do assassinato, não se deslocando até o local onde estava o corpo. Conforme a própria polícia relata ao G1, devido à “falta de visibilidade e dificuldade de deslocamento”. Os moradores esperaram durante a madrugada, mas só na manhã da quarta-feira (26) chegaram o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), o rabecão e algumas viaturas da Polícia Militar e da Civil para recolher o corpo.

De acordo com uma moradora que preferiu não se identificar, a Polícia Militar também não passou desse ponto para fazer as rondas solicitadas, deixando os moradores à própria sorte. “De sexta para sábado vieram duas viaturas aqui só em uma parte do território, na parte de baixo, e de sábado para domingo eles vieram e ficaram dentro da Vila [Base Naval], então eles fizeram segurança lá dos militares, não fizeram da gente. E desde esse dia que a gente não está tendo ronda. O governo do estado tem obrigação de dar proteção a todos nós, mas é muita falha, muita falha mesmo”, relata.

Não há suspeitas por parte dos quilombolas a respeito de quem poderia ter cometido o crime ou qual a motivação. De acordo com a Polícia Civil, uma equipe do Serviço de Investigação em Local de Crime (Silc) está atendendo o caso, mas ainda não há detalhes.

“A gente pede a investigação urgentemente porque não sabemos quem é o assassino, o assassino pode estar em qualquer lugar, então a gente espera que a justiça resolva o mais rápido possível”, apela “A gente chama atenção ao secretário de Segurança Pública que venha fazer essa investigação. Vão esperar mais vidas serem assassinadas e não fazer nada?”.

Essa não é a primeira vez que o quilombo Rio dos Macacos registra um episódio assim, a moradora conta que, em 2019, outro morador também foi assassinado, mas que a investigação nem ao menos chegou até a família. “Será que teve uma investigação completa? O dever deles é chamar todo mundo para depor. Então a gente espera que agora eles façam o trabalho deles”.

 

Insegurança e Ausência de Políticas Públicas

Para os quilombolas, essa insegurança é gerada principalmente pela ausência de políticas públicas na região. “Ele [Pedro Henrique] foi assassinado numa estrada de chão, que não tem iluminação pública, o governo municipal e o governo do estado da Bahia não trazem as políticas públicas para dentro da comunidade, que é de direito, a gente está pedindo uma reunião com o governador do estado da Bahia, e até hoje não conseguimos essa reunião”, completa.

A ausência de políticas públicas, por sua vez, é analisada pelos quilombolas como retaliação, e a história é antiga. Desde a década de 1950, a comunidade convive com a invasão da Marinha do Brasil, mas em julho do ano passado, eles assinaram sua titulação, documento que reconhece e transfere 97,83 hectares, de um total de 301,36, para a Associação dos Remanescentes de Quilombo Rio dos Macacos.

O episódio que marcou o início da luta judicial pela titulação ocorreu em 2009, quando a União entrou com três ações reivindicatórias que afirmava que o local que as famílias ocupavam pertencia a Marinha, e requeria a remoção da comunidade do seu território.

Mas não parou por aí. Em outubro do ano passado, os moradores receberam uma liminar da Justiça após pedido da Marinha, que alegou que a área teria sido ocupada irregularmente pelos quilombolas, que precisam acessar a barragem na área do Rio dos Macacos para ter acesso à água. Em nota enviada à imprensa, na época, a Marinha informou que o local em questão pertencia à União e não fazia parte da área titulada em julho.

A juíza que expediu a liminar também estabeleceu uma multa, caso os quilombolas acessassem a água do rio, e autorizou o uso de força policial pela Marinha, para que a ordem fosse cumprida.

“Essa liminar já caiu, só que a qualquer momento a Marinha pode recorrer, e a gente sabe que vão. O Rio dos Macacos é nossa vida, nosso sangue, não tem como a gente sobreviver sem água e eles querem passar um maldito muro lavado de sangue, porque a partir do momento que eles passarem esse muro, retirando toda a água do território, não tem sentido de a gente sobreviver aqui, nem os bichos vão sobreviver. Até agora, a Marinha usa uma parte do rio pra jogar o despejo de esgoto da Vila [Base Naval]. Qualquer pessoa pode vir aqui e ver, a barragem se encontra em alto risco, eles estão fazendo uma maquiagem por cima, mas por baixo está tudo estragado. O dever da Marinha é proteger, é dar assistência à barragem, não é impedir a gente de ter acesso à água. Dizem que eles estão no Brasil pra defender a nação. Quem é a nação mesmo pra eles?”, desabafa a moradora.

A quilombola denuncia que, como a comunidade nunca permitiu a construção do referido muro, o abandono, a ausência de políticas públicas, e de qualquer tipo de assistência, é a resposta do governo.

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