Ex-funcionário da companhia aérea foi indenizado pelo caso que ocorreu em 2015, mas foi demitido pela companhia e desde então não conseguiu mais emprego na área
Por Andressa Franco
Imagem: Agencia Brasil
A companhia aérea LATAM Linhas Aéreas foi condenada pela Comissão processante da Secretaria Estadual de Justiça de São Paulo a pagar multa no valor entre R$ 14 mil e R$ 28 mil. A decisão, julgada procedente por unanimidade, foi anunciada no dia 20 de maio e se refere ao caso de José Roberto dos Santos, ex-funcionário da empresa que foi chamado de “macaco” durante o expediente em 2012, e de “preto safado, sem vergonha” em 2015, em ambos os casos as ofensas partiram de outros funcionários. A empresa é acusada de não tomar providências e se omitir em relação ao caso de racismo.
Na época da denúncia, José Roberto recebeu uma indenização no valor de R$ 10 mil e a companhia se comprometeu a treinar e orientar seus colaboradores a respeito de práticas racistas, mas, segundo o profissional, a medida não gerou resultados. Passados três meses do recebimento da indenização, José foi demitido, e passou por dificuldades para voltar ao mercado de trabalho. Hoje, atua como porteiro no centro de São Paulo.
“Na verdade a dificuldade foi que eu não consegui me recolocar na aviação, porque querendo ou não eles têm uma comunicação entre eles. Eu fiz uma entrevista em uma grande empresa na área de logística e deu pra perceber, através das perguntas, que eles já sabiam do meu caso, então eu acredito que por isso eu não fui contratado”, comenta.
O processo estava em andamento desde 2017 para que a empresa fosse multada pelo Estado. O texto aponta que a LATAM não tratou os atos racistas com a devida seriedade, e que José foi humilhado, inferiorizado e constrangido. Além disso, a Justiça entendeu que, diante das provas apresentadas, os denunciados tinham “condições de agir de forma diferente” para evitar o sofrimento da vítima, mas não o fizeram.
“Nesse processo eu não ganho nada, é um processo administrativo, então eles pagam ao Estado. Eles foram condenados em 2017 na ação trabalhista e agora foram condenados na Secretaria da Igualdade Racial, só que essa condenação tem um peso muito grande, porque ação trabalhista praticamente todas as empresas têm, só que essa ação e condenação da Secretaria de Igualdade Racial ainda são uma novidade, dificilmente uma empresa grande como ela recebe uma condenação”.
Histórico da Latam
Essa não é a primeira vez que o nome “LATAM Airlines Brasil” aparece veiculado a situações de racismo.
José Roberto lembra ainda de um colega de trabalho que passou por uma situação de racismo na empresa, nesse caso por conta do seu cabelo. “O gerente do setor comunicou ao supervisor que queria que ele mudasse o visual, e ele falou que não iria cortar [o cabelo], então passou a ser perseguido, ele denunciou o caso ao Centro de Combate ao Racismo e ao Ministério do Trabalho, durante um tempo até que parou a perseguição, só que depois voltaram a perseguir ele”, relata José, que também afirma que o colega foi demitido cerca de cinco meses depois dele.
Em dezembro de 2015, um grupo de jovens artistas sofreram ofensas racistas por parte de funcionários da companhia durante um voo. De acordo com o relato dos artistas na época, um homem branco teria enviado para um colega, também branco, a mensagem: “Depois que começaram a vender passagens nas Casas Bahia, ficou foda andar de avião!”, e na sequência mandou outra mensagem para o mesmo colega: “Pede pra trocar de lugar com a feinha aí”, referindo-se a uma das jovens negras do grupo. Ao perceber o que estava acontecendo, decidiram tirar satisfações com o agressor, o que gerou uma discussão, comissários de bordo interviram, mas não acionaram a polícia, ao invés disso mudaram os agressores de lugares e seguiram com o voo.
Em junho de 2018, a companhia atravessou outra polêmica, quando um de seus funcionários apareceu em um vídeo constrangendo mulheres na Rússia com outros brasileiros durante a Copa do Mundo. A Latam demitiu o funcionário.
Em março de 2020, a empresa foi condenada pelo Juizado Especial Cível de Boituva a indenizar um passageiro por danos morais, após ter sido vítima de racismo durante um voo.