Por Késsia Carolaine
Há cinco anos, no dia 14 de junho de 2020, Micael Silva Menezes, de apenas 11 anos, foi morto a tiros no bairro Vale das Pedrinhas, em Salvador (BA). O menino brincava de pipa, quando policiais militares realizavam uma operação na região. Testemunhas relataram que Micael correu para se esconder, mas mesmo assim foi atingido por um disparo no pescoço.
Na época, a 40ª Companhia Independente de Polícia Militar (CPMI/Nordeste de Amaralina) afirmou, em nota, o que sempre afirma: que os agentes foram acionados após denúncias de homens armados na área e que teriam sido recebidos com tiros ao chegar ao local. No entanto, moradores e familiares negam que houve confronto.
Uma testemunha, que preferiu não se identificar, contou que, após ser baleado, o menino pediu ajuda e se abrigou em uma casa. Os policiais, porém, o retiraram do local e o jogaram em uma viatura. Micael foi levado ao Hospital Geral do Estado (HGE), mas não resistiu.
Pais descobrem a morte do filho após horas de desespero

Maurício dos Santos Menezes e Joselita Silva, pais de Micael, só souberam do ocorrido através de vizinhos. Quando chegaram ao local do crime, não havia mais ninguém. Descobriram, então, que o filho havia sido levado ao HGE.
No hospital, uma enfermeira informou que a vítima estava em cirurgia. Mesmo insistindo, os pais não foram autorizados a vê-lo. Joselita, no entanto, conseguiu passar pela segurança e entrou na sala, onde reconheceu os pés do filho e percebeu que ele já estava morto.Além da dor de encontrar o filho sem vida, Joselita relata ter visto um policial ensanguentado no hospital e acredita que ele seja o autor do disparo. Ela e Maurício também notaram que os agentes presentes não portavam identificação.
Dois anos sem investigação e a luta por justiça
A morte de Micael passou dois anos sem conclusão do inquérito policial, e nem mesmo uma audiência. Neste período, os pais do menino sentiram mais do que nunca a dor da perda e da angústia, além da impunidade para os responsáveis que tiraram a vida de seu filho. Hoje, após cinco anos do crime, Joselita e Maurício continuam em busca de justiça.
Procurado pela Afirmativa, o Ministério Público da Bahia não respondeu até o fechamento desta reportagem.
A luta constante das mães

A história de Joselita não é isolada. Crianças, adolescentes e jovens negros têm o seu direito à vida violado diariamente, já que a violência policial as ceifa todos os dias. O Dossiê “Quem Vai Contar os Corpos”, publicado pelo Odara – Instituto da Mulher Negra, reúne diversos casos de crianças, adolescentes e jovens negros que foram mortos em decorrência da atuação da Polícia Militar da Bahia.
São apresentadas histórias reais, inclusive a de Micael, além de dados sobre essas mortes nos últimos 13 anos, abordando ainda seus impactos para as famílias das vítimas e uma série de recomendações para promover reparação. Quantas mais vão morrer até que o Estado seja responsabilizado?


