Por Patrícia Rosa
Com sentimento de revolta, moradores do Curuzu, em Salvador (BA), foram às ruas na tarde do último sábado (02), em protesto contra mais uma morte durante uma ação policial. Ivonei de Assis da Cruz, 40 anos, músico, produtor cultural e criador da banda Curuzu City, foi morto com quatro tiros na cabeça durante uma ação policial, na noite da sexta-feira (01).
De acordo com relatos dos familiares, Ivonei voltava para casa com instrumentos musicais, após a apresentação da banda Curuzu City, da qual ele foi criador. Aline Silva, advogada e amiga da vítima, relatou à Reportagem da TV Bahia que ele tocava com amigos e, ao voltar para casa, foi surpreendido pelos policiais.
“Quando ele desceu, ele ouviu os disparos e correu. Quando correu para outra rua, foi surpreendido por outra guarnição e aí foi alvejado”. Aline ainda contou que, pelo que conheceu de Ivonei, ele deve ter tentado diálogo, deve ter dito que era morador, que ele acreditava que seria possível explicar, mesmo assim ele foi alvejado.
Como de praxe nestes casos, a versão oficial da Polícia Militar diz que houve confronto durante as rondas no bairro. Em nota enviada à Revista Afirmativa, foi relatado que três homens foram mortos durante a ação.
“Os policiais envolvidos serão submetidos aos protocolos estabelecidos na Portaria nº 070, que disciplina os procedimentos a serem adotados em casos de Mortes em Intervenção de Agente do Estado (MILAE)”, declarou a PM.
Ivonei era atuante nas manifestações culturais no bairro do Curuzu. Músico e fundador da banda Curuzu City, também mantinha um bloco infantil. Nas eleições municipais de 2024 também foi candidato a vereador. Seu corpo foi sepultado no domingo (3), no Cemitério Quinta dos Lázaros, sob comoção de familiares, amigos e moradores.
Letalidade policial segue há anos dizimando a população negra e periférica na Bahia
De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a Bahia ultrapassou o Rio de Janeiro em 2022 como o estado com mais mortes provocadas por policiais, somando 1.464 naquele ano. Em 2023, o número aumentou para 1.699. Cinco das dez cidades brasileiras com maior letalidade policial estão na Bahia, incluindo a capital, Salvador.
Entre 2020 e 2022, 97% das pessoas mortas pela polícia em Salvador eram negras, segundo levantamento do Fórum Permanente pela Redução da Letalidade Policial na Bahia. Desse total, 91% tinham entre 15 e 29 anos. A maioria dos assassinatos ocorreu em bairros marginalizados, onde o aparato de segurança pública segue operando com lógica militarizada e seletiva, frequentemente sem responsabilização dos agentes envolvidos.