Por Karla Souza
A família de Gilberto Gil ajuizou uma ação por danos morais contra o padre Danilo César, da Paróquia São José, em Areial (PB), após declarações consideradas racistas e ofensivas feitas logo após a morte de Preta Gil. Durante uma homilia transmitida ao vivo, o sacerdote debochou das religiões de matriz africana e da fé da artista, que faleceu em julho de 2025, vítima de câncer. O caso reacende o debate sobre racismo religioso e os limites entre liberdade de expressão e discurso de ódio.
O episódio ocorreu no dia 27 de junho. Em meio à pregação, Danilo César mencionou o nome de Gilberto Gil e ironizou a crença do cantor ao afirmar: “Gilberto Gil fez uma oração aos orixás, cadê o poder desses orixás que não ressuscitaram Preta Gil?”. A fala foi interpretada como uma tentativa de ridicularizar a espiritualidade da família, associada ao candomblé, e reforçar estigmas históricos contra religiões afro-brasileiras.
A ação judicial, movida por Gilberto Gil, Flora Gil, os filhos Nara, Marília, Bela, Maria, Bem e José, e o neto Francisco, sustenta que as declarações extrapolam o direito à liberdade de expressão e violam a dignidade da cantora. O cantor exige uma indenização de R$ 370 mil por danos morais, valor que, segundo a família, simboliza o impacto das ofensas na memória e na espiritualidade da vítima.
Preta Gil, que se identificava publicamente como católica e candomblecista, sempre defendeu o respeito à diversidade religiosa e cultural. A fala do padre foi vista pela família como uma ofensa à sua memória e às tradições que ela ajudou a visibilizar. Após repercussão negativa, o sacerdote foi notificado extrajudicialmente para se retratar publicamente.
Aumenta o número de denúncias contra racismo religioso no Brasil
Segundo dados do canal de denúncias do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), o Disque 100, o Brasil registrou 3.853 violações motivadas por intolerância religiosa em 2024, um aumento de mais de 80% em relação ao ano anterior, que teve 2.128 casos. As religiões de matriz africana estão entre as mais afetadas: o número de violações contra o candomblé saltou de 58 para 214, enquanto a umbanda passou de 84 para 234 registros no mesmo período.