Por Matheus Souza
Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, continua acusando o governo da África do Sul de uma suposta “perseguição étnica” contra sul-africanos brancos. O republicano anunciou na última quinta-feira (30) que o governo estadunidense irá fixar em apenas 7.500 o número de pessoas que poderão obter a classificação de refugiados este ano, com prioridade para os africâneres, descendentes brancos dos primeiros colonos europeus na África do Sul.
O governo sul-africano respondeu à acusação de perseguição racial afirmando que a medida de Trump se baseia em acusações de perseguição “desacreditadas”. Em comunicado emitido na última sexta-feira (31), o Ministério de Relações Exteriores sul-africano classificou a posição estadunidense sobre a situação dos sul-africanos brancos como fundamentada “em um pressuposto que é factualmente incorreto”.
“A afirmação de um ‘genocídio branco’ na África do Sul está amplamente desacreditada e não conta com nenhuma evidência que a sustente”, acrescentou.
O Conselho Americano de Imigração se posicionou contra a medida. Aaron Reichlin-Melnick, companheiro sênior da instituição, afirmou que o programa de refugiados “será usado como via para a imigração branca”, chamando a medida de “decepção para uma joia humanitária dos Estados Unidos”. Já Krish O’Mara Vignarajah, presidente da Global Refuge, declarou que a mudança “mina o propósito e a credibilidade” de um programa que, há mais de quatro décadas, serve de abrigo a famílias que fogem da guerra e da repressão.
Os Africâneres
Os herdeiros dos colonos responsáveis pelo Apartheid – os africânderes – formam cerca de 5% da população sul-africana. Durante o período colonial, os invasores brancos em território sul-africano, vindos especialmente da Holanda, França e Alemanha, obrigaram a maioria negra da população local a se instalar em bairros segregados das cidades e em reservas rurais. Isso aconteceu devido a uma lei de 1913, que proibia negros de adquirir terras fora dessas reservas, conhecidas como “bantustões” (terras natais).
Essas terras, que abrigavam a maioria negra (80%) do país, ocupam hoje 13% do território sul-africano, o que causa uma inequidade considerável entre as terras ocupadas pelos negros e brancos do país. Com a aprovação da Lei de Expropriação, os africâneres sentiram que seus privilégios estavam ameaçados, decidindo então apelar ao governo dos EUA por ajuda.
Em fevereiro deste ano, Trump emitiu uma ordem executiva onde denunciava Cyril Ramaphosa, presidente da África do Sul, pela promulgação da ‘Lei de Expropriação /13 de 2024’, que concede ao estado o poder de confiscar terras sem a necessidade de pagar indenizações.
No documento, o presidente estadunidense afirmou que o objetivo da lei é “desapropriar terras agrícolas da minoria étnica afrikaners [africânderes, em português]”. Em maio, um avião com 49 sul-africanos brancos pousou em Washington (DC), nos EUA, se tornando o primeiro grupo de africânderes a desembarcar em território estadunidense como refugiados.


