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Desigualdade racial define quem mais sofre com os efeitos da crise climática no Brasil, afirma estudo

Análise do Instituto Pólis mostra como o racismo ambiental molda a vida nas cidades e amplia as vulnerabilidades da população negra nas periferias
Imagem: Agência Brasil

Texto: Divulgação

O novo levantamento do Instituto Pólis, “Racismo Ambiental e Injustiça Climática”, apresentado no último dia 3 de novembro e disponibilizado no site oficial, revela que a população negra é a mais afetada pelos impactos das mudanças do clima, em um cenário em que desigualdade racial e urbana se cruzam e aprofundam a vulnerabilidade das comunidades periféricas.

Para produção da pesquisa foram utilizados os dados do Censo Demográfico de 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cruzando informações sociodemográficas com indicadores de vulnerabilidade climática e de acesso a serviços urbanos. Foram considerados fatores como saneamento, coleta de lixo, renda, cobertura vegetal, permeabilidade do solo e infraestrutura de drenagem, analisados em três recortes territoriais: áreas predominantemente brancas, favelas e zonas de risco ambiental. A pesquisa atualiza o levantamento anterior “Racismo Ambiental e Justiça Socioambiental nas Cidades” e amplia a análise para quatro capitais: Belém (PA), Recife (PE), São Paulo (SP) e Porto Alegre (RS).

Em São Paulo, 66,3% dos moradores das favelas são pessoas negras, enquanto esse grupo representa 43,4% da população total da cidade. Nessas comunidades, apenas 76,9% dos domicílios têm acesso à rede de esgoto e 77,2% contam com coleta de lixo, contra 94,6% e 91,7% na média da cidade. A arborização, que contribui para reduzir as temperaturas, chega a apenas 29,5%,  menos da metade do registrado em bairros mais estruturados. Essa precariedade também impacta a saúde: as pessoas negras correspondem a 51,4% das internações por doenças como dengue e chikungunya, diretamente ligadas à falta de saneamento e ao aumento das temperaturas.

As desigualdades também afetam de forma acentuada as mulheres chefes de família. Em São Paulo, 8,7% das mulheres que lideram seus lares em favelas não são alfabetizadas, mais que o dobro da média da cidade. Em Porto Alegre, o índice de mulheres responsáveis pelo domicílio não alfabetizadas chega a 4,2% nas áreas de risco, enquanto  fora das áreas de risco, o índice cai para 1,5% e chega a apenas 0,3% nos bairros de maioria branca.

Os efeitos dessas desigualdades ficaram evidentes nas enchentes de 2024: na capital gaúcha, as regiões mais atingidas eram justamente as com população negra acima da média municipal. Segundo o estudo, 40,2% das pessoas que vivem em áreas de risco se autodeclaram negras, frente a 25,9% no conjunto da cidade.

Em Recife, a relação entre desigualdade racial, escolaridade e vulnerabilidade climática também é expressiva. Nas favelas e comunidades urbanas, 13,5% das moradoras responsáveis pelos domicílios são mulheres não alfabetizadas, índice muito superior ao das áreas predominantemente brancas (0,9%). A baixa escolaridade entre mulheres negras periféricas está diretamente associada à precariedade do saneamento básico e à maior exposição a doenças de veiculação hídrica e aos impactos de eventos climáticos extremos.

Em Belém, pessoas negras têm até 30 vezes mais chances de serem hospitalizadas por doenças ligadas à água do que pessoas brancas. Nas áreas de risco da capital paraense apenas 30,9% dos domicílios têm acesso à rede de esgoto, fora dessas zonas o índice é de 40%. No Recife, bairros de maioria branca concentram os melhores índices de saneamento e arborização, sete vezes superiores aos das comunidades negras e periféricas. Já em Porto Alegre, 40,2% da população negra vive em áreas de risco de enchentes e deslizamentos.

Para enfrentar essas desigualdades, o Instituto Pólis propõe medidas estruturais e participativas, como a urbanização das favelas com foco em saneamento ambiental, drenagem e ampliação de áreas verdes, além da gestão comunitária de riscos. O uso de imóveis vazios para moradias populares também é apontado como alternativa para reduzir emissões e proteger áreas verdes da expansão urbana. “Enfrentar as mudanças do clima nas cidades significa corrigir as desigualdades territoriais, raciais e de gênero que aumentam os impactos da crise climática sobre grupos historicamente vulnerabilizados”, destaca o dossiê.

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