No clima da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), a jornalista Luana Luizy e a comunicadora Maysa Pereira, com o apoio da Revista Afirmativa, lançam o documentário: “Mátrias que tecem o Bem viver”, que mostra o impacto do racismo ambiental na vida de mulheres quilombolas de diferentes regiões do Brasil.
As mulheres negras continuam na base da pirâmide social brasileira. São elas que enfrentam os menores rendimentos, a maior dificuldade de ascensão profissional e a informalidade que marca o mundo do trabalho.
Nas comunidades quilombolas, as desigualdades se aprofundam. A ausência de políticas públicas básicas, como saneamento adequado, o desmatamento, a pressão de fazendeiros, e a instalação de aterros sanitários e lixões próximos aos territórios escancaram o racismo ambiental e a vulnerabilidade desses espaços.
Mesmo diante dessas ameaças, são as mulheres quilombolas que têm se colocado na linha de frente da resistência. Elas lutam pela titulação dos territórios, denunciam invasões e defendem modos de vida pautados no Bem Viver, mas também sofrem os efeitos dessa sobrecarga: o adoecimento físico e mental provocado pelo descaso e pela violência ambiental.
No documentário, Rejane Rodrigues, do quilombo Quingoma, em Lauro de Freitas (BA), conta sobre a sua luta contra a especulação imobiliária e pela titulação do território. Para ela, o Bem Viver é uma utopia que se constrói no cotidiano: “Bem Viver seria deitar na minha cama, ver minha filha e minha mãe saudáveis. Estar no meu território com políticas públicas garantidas, acordar com os galos, plantar e colher no meu quintal, empoderando os meus.”
Na obra, a pedagoga e quilombola Juliana Soares, das comunidades Coxilha Negra e Boqueirão (RS), explica que o racismo ambiental é uma herança estrutural: “Quando o Estado brasileiro nos expropria da terra e impede o acesso a políticas agrárias, perpetua um projeto de exclusão e extermínio. O racismo ambiental nasce com a própria formação do país.”
A produção também destaca como a comunidade Kulumbú do Patuazinho, na Bacia da Foz do Amazonas (AP), tem enfrentado os impactos da exploração de petróleo pela Petrobrás, autorizada pelo Ibama, narrado pela liderança quilombola Leudilene Furtado. “Estamos sofrendo com o desmatamento, invasões e destruição dos igarapés. Estão devastando o que sempre cuidamos”, denuncia.
Fazendo um giro pelo país e chegando na região Centro-Oeste, em Goiás, as mulheres Kalunga enfrentam a expansão do agronegócio sobre seus territórios. “O racismo ambiental afeta todos nós, mas principalmente quem está dentro das comunidades. Quem mais preserva as nascentes é quem não tem água em casa”, afirma Fátima Tertuliano, liderança Kalunga.
O documentário “Mátrias que tecem o Bem Viver” é um chamado à força e à sabedoria das mulheres quilombolas. Suas vozes entrelaçam memória, denúncia e esperança, lembrando que um outro Brasil é possível, tecido pelas mãos das mulheres negras que sustentam o país e cuidam da terra. O produto audiovisual é fruto do Lab Afirmativa por Reparação e Bem Viver, uma formação voltada a comunicadoras negras de organizações sociais negras, jornalistas e estudantes de jornalismo negras de todo o país.
A iniciativa promove um processo de imersão que aborda temas técnicos e políticos da comunicação, do jornalismo e dos movimentos sociais, fortalecendo tanto o movimento de mulheres negras quanto a prática jornalística com expertise política. O laboratório integra as ações de fortalecimento da Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, que acontecerá no dia 25 de novembro, em Brasília.
Assista ao documentário na íntegra aqui.


