Por Késsia Carolaine
Dados inéditos da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) de 2024 revelam a persistência da desigualdade racial no mercado de trabalho brasileiro e nas ocupações. A análise mostra que, nas 87 divisões de atividades econômicas com dados disponíveis, a remuneração média das pessoas negras é inferior à média nacional do respectivo setor. Em setores como o de serviços financeiros, seguros, previdência complementar e planos de saúde, essa desigualdade fica mais evidente.
A disparidade se manifesta tanto em valores absolutos, quanto relativos. O setor de extração de petróleo e gás lidera o ranking da diferença em números absolutos: nele, os trabalhadores negros ganham, em média, R$ 4,6 mil a menos que a média salarial da atividade.
Quando se observa a proporção do salário, o cenário é ainda mais crítico na indústria do cigarro. Nesse segmento, a remuneração média de pessoas negras equivale à metade (50%) da remuneração média nacional do setor.
Os dados, referentes a 31 de dezembro de 2024 e baseados nos microdados da RAIS – declaração obrigatória para todos os empregadores –, foram analisados considerando a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE). Apenas seis grupos de atividades, entre 251 analisados com mais de 5 mil empregados, registram salários médios para pessoas negras superiores à média do grupo.
Raros casos de vantagem e os maiores abismos
Dentre esses raros casos, a demolição e preparação de terrenos apresenta a maior variação, com pessoas negras recebendo R$31,00 a mais que a média do setor. Em contrapartida, atividades de administração de fundos por contrato ou comissão e intermediação não monetária (que inclui bancos de investimento) apresentam as desvantagens mais exacerbadas, chegando a R$5 mil de diferença. Nesse setor de atividades de administração, enquanto pessoas brancas ganham até R$10.069,48 pessoas negras ganham apenas R$4.778,71. Na administração de fundos, a diferença é ainda mais explícita: profissionais negros têm um salário médio de R$ 6,8 mil, enquanto os brancos recebem R$ 14,4 mil.
Sub-representação em outros setores
Além da desigualdade salarial entre pessoas negras e pessoas não negras, o relatório também traz as desigualdades de participação nos setores da economia. Na indústria aeronáutica, os negros são uma minoria expressiva, representando apenas 20% da força de trabalho. Além de sub-representação, recebem apenas dois terços da média salarial do setor.
Já no transporte hidroviário, os trabalhadores negros são a maioria, compondo 76% dos empregados, um dos índices mais altos de representatividade entre as atividades econômicas mapeadas.


