Por Elizabeth Souza
“Se esse Brasil está de pé, é porque carregamos ele nas costas”. Essa foi uma das afirmações da deputada federal Erika Hilton durante o diálogo “Mulheres Negras Rumo às Eleições de 2026”, realizado nesta segunda-feira (24), na Casa MND (Mulheres Negras Decidem), em Brasília (DF). A atividade integrou a programação da Semana por Reparação e Bem Viver, que compõe a agenda oficial da Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver.
A mesa reuniu lideranças históricas e contemporâneas, entre elas a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco; a senadora Benedita da Silva; e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. O encontro marcou a proximidade de mais um ciclo eleitoral e reforçou a necessidade de ampliar e fortalecer a presença de mulheres negras nos espaços de poder e decisão.
Embora representem 28,5% da população brasileira — mais de 60 milhões de pessoas —, sua representação política segue profundamente desigual. Nas eleições de 2024, do total de 79 mil mulheres negras candidatas, apenas 5.006 (6,3%) foram eleitas, segundo dados do Inesc. Na Câmara Federal, elas ocupam apenas 2% das cadeiras.
Nesse cenário, Erika Hilton ressaltou a ruptura simbólica e política que está em curso. “O Brasil se acostumou a ver a mulher negra de cima para baixo, seja para nos humilhar, chicotear. De repente, nossas matriarcas nos inspiram e nos ensinam que, sim, nós podemos olhar o Brasil de cima para baixo, só que eles não estão preparados”, afirmou. E completou: “Estamos reescrevendo a história, estamos projetando um futuro melhor”.
A senadora Benedita da Silva, referência na luta política das mulheres negras, reforçou a importância da atuação coletiva e do compromisso com as pautas históricas da população negra. “Somos as mais qualificadas que existem, não somos covardes, somos mulheres negras”, disse.
A vereadora e pré-candidata ao Senado por Pernambuco, Jô Cavalcanti, também enfatizou a necessidade de ocupar espaços de forma estruturante. “Não podemos ser exceção da regra, temos que ser a regra.”
A ministra Marina Silva destacou a urgência de ampliar a participação de mulheres negras no campo político. “Nós não queremos o básico, queremos a plenitude das possibilidades”, afirmou, conectando a disputa institucional à longa trajetória da Marcha das Mulheres Negras. Iniciada em 2015, a marcha chega nesta terça-feira (25) à sua segunda edição, novamente em Brasília, convocando o país a debater Reparação e Bem viver.
As falas das lideranças presentes ressoaram como convocação e encorajamento às vésperas da marcha. “Estou muito feliz em marchar com vocês”, afirmou a ex-deputada federal por Minas Gerais, Áurea Carolina. Já a ministra Anielle Franco deixou um alerta sobre os desafios ainda postos. “Eles querendo ou não, nem que a gente tenha que arrombar as portas desses espaços a gente vai chegar, mas temos que chegar vivas”, destacou.
Semana por Reparação e Bem Viver
O evento promovido pelo MND é um dos muitos que estão ocupando a capital federal desde a última quinta-feira (20) e seguirão até a próxima quarta-feira (26), como parte da programação oficial da Semana por Reparação e Bem Viver. As agendas são promovidas por coletivos e organizações de todos os cantos do país e também internacionais, mobilizadas em torno da Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, que acontece no dia 25 de novembro. Para conhecer toda a programação, acesse os perfis da Marcha nas redes sociais.
A Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver é uma mobilização de caráter nacional e internacional, que acontece quase 10 anos depois de mais de 100 mil mulheres negras marcharem em 2015 contra o Racismo, a Violência e pelo Bem Viver – um processo histórico que impactou e definiu os rumos da nossa organização política no Brasil e na América Latina.


