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Grupo de trabalho do governo pretende discutir proposta de regulamentação de entregadores por aplicativo

Uma pesquisa recente mostrou que esses profissionais precisam realizar 15 pedidos por dia para ultrapassar linha da pobreza
Imagem: Ravena Rosa/Agência Brasil

Por Matheus Souza

Na última quarta-feira (3), o ministro da secretaria-geral da presidência, Guilherme Boulos (PSOL-SP), se reuniu com representantes de entregadores para criação de um grupo de trabalho no governo federal. A iniciativa surge frente às demandas da categoria, que se expandiu rapidamente no país, mas que ainda enfrenta ausência de regras claras sobre remuneração, proteção social e transparência das plataformas digitais.

O objetivo é debater e construir propostas que impactem positivamente o cotidiano desses trabalhadores que hoje representam uma parte fundamental da economia gerada por plataformas virtuais e, mesmo assim, enfrentam uma série de problemas laborais. Além da baixa remuneração, a categoria sofre com a ausência de um piso salarial comum e a falta de regulamentação.  

15 pedidos por dia para ultrapassar a linha da pobreza

Uma pesquisa realizada com entregadores de aplicativo na Argentina mostrou a dura realidade que esses profissionais precisam enfrentar para garantir o sustento da família. Segundo o Coeficiente Médio de Alcance de Pedidos (APP), lançado pela Fundação Encuentro, um entregador precisa realizar mais de 15 pedidos por dia, todos os dias do mês, apenas para ultrapassar a linha da pobreza.

Apesar da jornada extensa de trabalho, que muitas vezes se iguala ou ultrapassa à de um trabalhador formal, esses profissionais conseguem apenas pouco mais que o suficiente para assegurar a sobrevivência da família. Em setembro de 2025, um entregador precisava completar 461 pedidos mensais para garantir uma Cesta Básica para uma família de quatro pessoas. Outras despesas, como pagar um aluguel médio, exige 271 entregas por mês.

O estudo calcula que o valor médio por pedido, sem gorjetas e tomando como referência Rappi e PedidosYa (aplicativos para delivery de comida), foi de US$ 2.553,6.  Ainda são apresentados alguns outros indicativos que medem quanto trabalho é necessário para suportar diferentes despesas:

– Aluguel médio em CABA (Cidade Autônoma de Buenos Aires): 271 pedidos.

– Criar um filho: 190 pedidos.

– Salário Mínimo, Vital e Móvel: 126 encomendas.

– Cesta Alimentar Individual: 67 pedidos.

– Encher um tanque de gasolina: 2 pedidos.

Mais da metade dos entregadores no Brasil são negros

No Brasil, a maioria desses profissionais são homens negros e moradores da periferia. Segundo estudo realizado pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), a pedido da Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec),  68% dos entregadores e 62% dos motoristas se declaram negros.

Um levantamento do Cebrap, divulgado em 2023, mostrou que a renda dos entregadores brasileiros varia conforme as horas trabalhadas e os períodos de ociosidade impostos pelos algoritmos. Levando em conta custos com combustível e manutenção, os ganhos líquidos estimados foram:

Jornada de 20h semanais: entre R$ 807 e R$ 1.325;

Jornada de 40h semanais: entre R$ 1.980 e R$ 3.039.

A ação do governo federal envolve diferentes ministérios e representantes dos entregadores, centrais sindicais e instituições ligadas à Justiça do Trabalho. Este canal de negociação será utilizado para apresentação de medidas capazes de influenciar tanto projetos em discussão no Congresso Nacional quanto futuras normas infralegais. 

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