Estados do Norte e Nordeste são locais onde a população negra, mais corre risco de vida
Por Patrícia Rosa
Imagem: APES
O perfil de pessoas assassinadas no Brasil, segue sendo o mesmo. A chance de uma pessoa negra ser assassinada é 2,6 vezes maior do que a de uma pessoa não negra. Em 2019, 77% das vítimas de homicídios no país foram negras, de acordo com os dados divulgados pelo Atlas da Violência 2021. A pesquisa foi produzida pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
“Tipicamente negro, jovem, que morre na rua, em via pública, por armas de fogo. Esse é perfil da vítima de homicídio”, afirma o diretor-presidente do Instituto Jones do Santos Neves, Daniel Cerqueira, na coletiva de imprensa do Atlas da Violência 2021, publicada na última terça-feira (31).
Quando se trata da redução do número de assassinatos, na última década, a queda dos registros entre as pessoas negras é de 15,5%. Já entre não negros o numero é maior, de 30,5%. Em contrapartida, em números absolutos a pesquisa ainda traz que no mesmo período, entre os anos de 2009 e 2019 houve um acréscimo de 1,6% de negros mortos de forma letal, passando de 33.929 mortes para 34.446 no último ano.
O estudo indica que o número de assassinatos tendem a ter grandes disparidades, quando se tratam de regionalidade. Os estados do Norte e Nordeste do país tiveram aumento nas taxas de assassinatos de pessoas negras, entre os anos de 2009 e 2019. No Acre o aumento foi de 114,5%, e no Rio Grande do Norte 100,4%. Esses dois estados foram apontados como as maiores elevações nas taxas de homicídios.
“Se considerarmos a taxa nacional de homicídios de pessoas negras no ano de 2019 , percebemos que nesse ano todas as UFs das regiões Norte e Nordeste, exceto Rondônia (26,3), Maranhão (26,2) e Piauí (18,5), registraram taxas acima da média nacional”, aponta o estudo.
Já nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil, apresentaram um declínio do percentual. No Distrito Federal a redução na taxa de homicídios foi de 59,3%, em São Paulo 53,1%, no Espírito Santo 46,7% e Rio de Janeiro menos 42,6%.
Um dado em comum para a maioria das unidades federativas é que os negros correm mais riscos de serem mortos do que um não negro. As exceççoes são Paraná e Roraima, que apresentaram taxa de homicídios de não negros superior à de negros. Mas, esta realidade de menor risco não parece ser vivida pela população negra dos estados: “Isso se deu porque no Paraná havia uma dificuldade de registrar as crianças como pretas ou pardas, e a autodeclaração não é significativa. Na verdade, os negros morreram mais lá também, mas captar dados nessas condições é mais complicado”, pontua o atlas.
Mulheres negras e o risco de serem mortas
A taxa de homicídios de mulheres negras, é de 4,1 a cada 100 mil habitantes. Já entre as não negras a taxa é de 2,5. O estudo afirma que o risco de uma mulher negra ser assassinada é 1,7 vezes maior. Elas fazem parte de 66% do total das vítimas de homicídio no Brasil. As unidades federativas onde as mulheres negras mais correm risco de morte, ficam nas regiões norte e nordeste. No Rio Grande do Norte 88% de assassinadas sendo negras; no Amapá 89% ; em Sergipe 94% e na Bahia 92%.
“Também chama atenção o caso de Alagoas, onde todas as vítimas de homicídios femininos em 2019, sem contar uma das vítimas sem identificação de cor/raça, eram negras”, afirma o atlas.
O Atlas da Violência 2021, revelou o declínio de 22,1 %, na taxa de homicídios entre 2018 e 2019, mas esse número deve ser visto com grande cuidado, devido à degradação na qualidade dos registros oficiais dos dados, no Brasil.