“A música eletrônica pode ser sim uma música de protesto”, afirma DJ de Salvador que lançou EP em conceituada gravadora da Europa

O mercado de música eletrônica tem crescido cada vez mais no Brasil graças ao impulso da popularização de aplicativos de streaming que tem feito esse gênero conquistar espaço em várias playlists

Brasil faz parte dos 10 países que mais consomem o gênero no Spotify

Por Andressa Franco

Imagem: Divulgação

O mercado de música eletrônica tem crescido cada vez mais no Brasil graças ao impulso da popularização de aplicativos de streaming que tem feito esse gênero conquistar espaço em várias playlists. Segundo o International Music Summit (IMS), conferência mundial de música eletrônica, o Brasil faz parte dos 10 países que mais consomem o gênero no Spotify.

Nesse cenário, o DJ e Produtor Musical soteropolitano Luan Pugliesi, de 24 anos, lançou nesta sexta-feira (16) o seu terceiro EP: Attack The King, lançado pela gravadora ucraniana Dear Deer (Black). Não é a primeira vez que o jovem realiza lançamentos em gravadoras estrangeiras, outra label Ucraniana, a IAMT RED, também já lançou singles de Pugliesi.

Mas, gravar com a Dear Deer era um sonho do DJ baiano desde as primeiras experiências produzindo música eletrônica, o que começou aos 13 anos. “Sempre quis ter minhas músicas em gravadoras consideradas lendárias. Meu primeiro contato com a Dear Deer foi em 2017, mas acho que minhas músicas não eram boas o suficiente na época, já que eles nunca me responderam, mesmo enviando demos a cada semestre”, brinca.

Dessa vez, no entanto, foi diferente. Apenas 20 minutos depois de enviar o EP, conta, a label visualizou o e-mail, ouviu e baixou as faixas e responderam.

“Eu mal acreditei, mas aconteceu. Até hoje eu fico desacreditado, porque foi a resposta mais rápida que tive em toda minha carreira.”, lembra. “Acredito que eu seja o primeiro artista baiano lançado pela label, mas já houveram outros brasileiros.”

As maiores referências de Pugliesi no gênero são artistas negros do exterior, como o britânico Carl Cox, referência mundial do Techno; o sul-africano de Durban Black Coffee, percursor do Afro House e que estabeleceu sua própria gravadora; os americanos Honey Djion, DJ negra e trans, referência no meio do House e Techno; e Frankie Knuckles, conhecido como pai do House; entre outros.

Dear Deer é uma gravadora de Kyiv, capital da Ucrânia, especializada em música eletrônica e se estabeleceu entre os fãs principalmente de deep house ao lado de dança indie, house progressivo e techno. Em 2016, o site de compra de música eletrônica Beatport colocou a Dear Deer em 77º lugar nas principais gravadoras mundiais de deep house.

Attack The King

O EP conta com duas tracks interligadas, que envolvem um conceito a partir da nomeação de cada faixa. A primeira se chama King’s Head e, de acordo com Pugliesi, representa a decapitação de um modelo de governo autocrata e autoritário. Enquanto a segunda, Oscillator Attack, demonstra a queda deste mesmo “governo” a partir da decapitação do seu “rei”.

“O EP conta com bastante groove e psicodelia, unindo referências do Minimal Techno, Psy Trance, Melodic Techno, Melodic House, Progressive House e Indie Dance, com a união de diversos elementos dessas vertentes.”, explica.

O processo de produção, destaca, aconteceu na casa de um amigo, e foi bastante “fragmentado”. A parte melódica da primeira faixa foi pensada a partir da chamada escala arábica, para “refletir a força e beleza que essa cultura tem.” Já a segunda foi feita um mês depois, menos melódica e mais agressiva.

O conceito pensado para o novo EP não foi uma coincidência. Diante do fim de mais um período eleitoral, considerado o mais polarizado desde a redemocratização no Brasil, o artista queria passar através da música eletrônica, que considera ainda elitizada, uma mensagem sobre a situação que os brasileiros viveram nos últimos quatro anos.

“Eu pensei em trazer esse contexto de tentativa de implementação de autocracia e de um governo extremamente autoritário, de ataques à democracia, para dentro da música. Também queria passar a mensagem de que a música eletrônica pode ser sim música de protesto. Não somente batidas ou músicas ‘de drogado’, como muitas pessoas dizem”, finaliza.

Para ouvir o EP, clique aqui.

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